domingo, 15 de janeiro de 2012

A Alimentação nos Primórdios de Minas Gerais

Historicamente, a fartura alimentar nunca foi a tônica do povo de Minas Gerais. A comida dos paulistas que partiam para o interior na caça de índios e na busca de metais preciosos era uma das mais pobres, exceto, logicamente, a de alguns potentados. A base da alimentação da população encontrava-se no milho e na mandioca. As plantações de mandioca eram insuficientes e na canjica não se utilizava o sal, uma vez que este ingrediente não estava disponível a todos.
Findo o plantel indígena na costa do mar, de Paranaguá à capitania do Espírito Santo, os paulistas partem para o Sertão, reunidos em bandeiras, alguns conseguiram chegar ao distrito do Rio das Mortes e à antiga Vila Rica, hoje Ouro Preto, onde ocorreram as primeiras descobertas auríferas. E nisto fica a pergunta sobre como os bandeirantes se alimentavam em sua epopéia pelos sertões? Tudo que cruzasse o caminho era alimento; todo gênero de caças, veados, antas, capivaras, macacos, quatis, onças, cervos e aves diversas, e em outras ocasiões , cobras, lagartos, formigas e até, segundo Afonso de E. Taunay, "uns bichos mui alvos que se criam em taquaras e paus pôdres". Os bandeirantes serviam-se de mel de abelhas, porcos, palmitos, e grelos da samambaia, carás do mato e outras raízes. Também não faltava peixe na dietética bandeirante, uma vez que carregavam consigo anzóis e linhas; o peixe era cozido em taquara quando pequeno e assado quando grande.
Mais complicado que encontrar ouro, era o problema de alimentar os mineiros. Pouco se plantava. As roças produziam muito pouco. Afonso Taunay citou uma missiva anônima que falava do cotidiano no Ribeirão do Carmo:

E era tal a falta de mantimentos, que se vendia no Ribeirão um alqueire de milho por 20 oitavas e de farinha por 32 e o de feijão por 32; uma galinha por 12 oitavas, um cachorrinho ou um gatinho por 32, uma vara de fumo por 5 oitavas e um prato pequeno de estanho cheio de sal por 8. E tudo o mais a êste respeito por cuja causa e fome morreu muito gentio, tapunhos e carijós, por comerem bichos da taquara que para os comer é necessário estar um tacho no fôgo bem quente e aliás vão botando os que estão vivos logo bolem com a quentura que são os bons e se se come algum que esteja morto é veneno refinado".

Se alimentar do "bicho da taquara" era um hábito dos indígenas, que apreciavam esta larva, como informou em suas "Cartas" o Padre Anchieta:

"Nascem entre as taquaras certos bichos roliços e compridos, todos brancos, da grossura de um dedo, aos quais os índios chamam raú, e costumam comer assados e torrados. Há-os em tão grande porção, indistintamente amontoados, que fazem com êles um guisado que em nada difere da carne de porco estufada ..."

Os escravos viviam em condições terríveis, em andrajos ou semi-nus, sofriam bastante com a pobreza da alimentação. Compensavam a fome na cachaça e no tabaco, enganando o estômago da falta de comida. Como Taunay relatou o cotidiano do escravo que trabalhava na mina:

"Indivíduos tão alucinados pelo ouro havia que, vindos da distância de 30 e 40 dias de jornada, partiam sem provimento algum. Assim, pelo caminho, muitos acabaram de irremediável inanição. E houve quem matasse ao companheiro por lhe tomar uma pipoca de milho que do seu borralho saltara para o do outro, dos poucos grãos que cada qual tinha para alimentar a vida naquele dia. Em vasta escala naquelas terras comprovava-se o provérbio de que a fome não tem lei".

Enfim, os primeiros habitantes das minas não pretendiam se dedicar a labuta do plantio da terra. A falta de estradas agravava ainda mais o desabastecimento, muito bem estudado no clássico de Mafalda Zemella - O abastecimento da Capitania das Minas Gerais no século XVIII. Fora das estradas que levavam às barreiras de controle e cobrança dos direitos de passagem, a Coroa não autorizava a abertura de outras estradas e as existentes não passavam de trilhas, aprincipio utilizadas somente por pedestres. Depois de algum tempo o escravo foi substituído pelas mulas no trasnporte de mercadorias. Negros fugidos e criminosos assaltavam a stropas com carregamento d egêneros alimentícios e outras mercadorias, desarticulando a atividade de negociantes e tropeiros. Por conta desses motivos, a escassez de mantimentos foi uma constante, gerando períodos de garnde fome em 1698, 1700 e 1713, respectivamente. Várias pessoas se retiraram para a mata na caça de víveres, ou retornaram aos seus povoados de origem. Nos anos subseqüentes, já com as roças produzindo, os mineiros voltaram a lavrar.

Agora vamos às 3 receitas:

Lombo de Porco à Mineira

2 kg de lombo de porco;
1 colher (sopa) de tempero mineiro.

Tempero Mineiro:
200 gramas de alho;
1/2 kg de cebola;
1 molho de cebolinha verde;
2 pimentões verdes;
2 kg de sal;
1 molho de salsa.

Tempero Mineiro: picar a cebola, o alho, os pimentões, cebolinha e salsa. Bater no liquidificador. Engrossar com o sal.
De véspera, temperar o lombo, furando-o com espeto. No outro dia, colocar o lombo numa assadeira untada e levá-lo a forno brando. De vez em quando, para que asse por igual, borrifá-lo com água. Quando estiver macio, deixar corar. Enfeitar com salsa e rodelas de limão.


Lagarto Encapotado

Temperos:
suco de 1 limão grande;
1 cebola média;
1 dente de alho;
sal a gosto;
1 folha de louro;
pimenta-do-reino.

Assado:
02 kg de lagarto;
sal;
100 gr. de bacon fatiado;
100 gr. de toucinho defumado;
02 colheres (sopa) de manteiga.

Massa:
3 xícaras de chá de farinha de trigo;
1 tablete de fermento; sal a gosto;
2 colheres de sopa de margarina;
100 gr. de creme de leite azedo;

Misture em uma panela grande, o suco de limão, cebola picada, alho socado com sal, folha de louro e a pimenta. Limpe bem a carne, sem tirar a capa de gordura que a envolve. Coloque-a no tempero e deixe tomar gosto de um dia para o outro, virando-a de vez em quando. Retire a carne do tempero e a enxugue com um guardanapo. Tempere com sal, enrole bacon em volta e amarre com barbante. Pique o toucinho bem miúdo e frite-o na própria gordura. Depois de frito, retire os torresmos e refogue a carne na gordura da panela, virando-a para dourar por igual. Depois, passe-a para uma assadeira, espalhe a manteiga por cima e leve ao forno pré-aquecido, por trinta minutos, regando-a de vez em quando com o próprio caldo da assadeira. Enquanto isso, prepare a massa: peneire a farinha de trigo em uma tigela, abra uma cavidade ao meio e adicione o fermento partido em pedaços, junte doze colheres (sopa) de água morna e misture com as pontas do dedo, juntando um pouco de farinha dos lados. Cubra e deixe repousar por 15 minutos em lugar morno. Acrescente uma pitada de sal e os ovos. Misture e sove até a massa ficar seca e aveludada. Cubra e deixe repousar por mais 20 minutos. Polvilhe uma mesa com farinha de trigo e abra a massa na espessura de ½ centímetro. Retire a carne do forno e deixe escorrer bem a gordura, sem desamarrar o bacon, coloque a massa sobre a massa e enrole-a, fechando as extremidades com a ponta de uma colher. Faça três buracos na parte de cima, para sair o vapor. Retire o caldo da assadeira e reserve. Derreta a margarina na mesma assadeira e coloque a carne com o lado que fechou a massa para cima, leve ao forno pré-aquecido e asse por uma hora. Coloque o enrolado em uma travessa, aqueça o caldo reservado e adicione o creme de leite sem deixar ferver. Sirva este molho a parte.


Bolo Caipira

3 ovos;
1 prato de mandioca cozida;
1 xícara de chá de coco ralado;
açúcar a vontade;
2 colheres de sopa de farinha de mandioca fina;
2 colheres de sopa de manteiga;
1 colher de sopa de fermento em pó.

Modo de preparo: Misture bem a mandioca cozida com a farinha de mandioca. Junte os ovos, um a um, bata mais um pouco e vá adicionando a manteiga, o açúcar, quantidade necessária, o coco ralado e por último, o fermento. Deixe a massa descansar por uma hora, e depois leve a assar em forno quente.

Bom Apetite! :-)


sábado, 14 de janeiro de 2012

Impressões sobre alimentação em Minas I

Alceu Amoroso Lima saudou a sobriedade mineira em um artigo de 1945, afirmando que "o mineiro come pouco e come da comida mais simples possível", de tal modo que "a cozinha e a adega mineiras seriam consideradas com desprêzo pelos gourmets". Ainda afirmou que "a mesa é sempre um acessório", em Minas, por isso que, no fundo, o homem mineiro a despreza, "com a sua vocação irresistível para a predominância do espírito".
Em referência aos mineiros faz-se necessário afirmar que trata-se do conjunto de habitantes do estado de Minas Gerais, tanto os do passado quanto os do presente. De uma maneira geral, podemos afirmar que o mineiro é sóbrio no hábito de comer. Mas, isto seria a característica de todo brasileiro, como afirmou Dante da Costa quando apontou o contraste que havia entre o sensualismo alimentar dos portugueses; segundo ele "considerado como um dos traços marcantes da cultura lusitana", e a "ausência de interesse anímico dos brasileiros pelo alimento, atitude quase de ausência daquele sensualismo, tão facilmente observável entre as camadas populares do Brasil". Alimentar-se bem pode ser uma herança lusitana, mais aplicada às classes mais abastadas. As camadas populares, tanto de lá quanto daqui se alimentavam muito mal.

Agora duas receitas tradicionais.


Vaca Atolada.

Dizem que o nome desse prato deve-se a sua aparência, quando pronto, lembra a imagem do gado, que atravessava o território mineiro, atolado nos brejos das trilhas dos tropeiros. Mas, vamos ao prato.

2 cebolas grandes cortadas em rodelas
1 kg de costelas de vaca
1 kg de mandioca
3 gotas de pimenta malagueta
3 colheres de sopa de óleo
1 colher de chá de Tempero Mineiro
1 tomate grande

Tempere as costelas de vaca (partidas em pedaços). Refogue-as no óleo até corar. Pingue água até cozinhar. Acrescente a mandioca aos pedaços (previamente descascadas, lavadas e escorridas) e o tomate. Quando a mandioca estiver quase cozida, acrescente as cebolas em rodelas. Deixe ferver mais um pouco até cozinhar. Disponha em uma travessa com as costelas por baixo e as mandiocas e as cebolas por cima.

P.S: Tempero Mineiro - cebola, alho, cebolinha verde, pimentões verdes, sal e salsa, batidos no liquidificador.


Pão de Queijo

200 ml de leite
200ml de água
100 ml de óleo
1 kg de polvilho azedo
1 colher de sobremesa de sal
6 ovos batidos ligeiramente, um a um.
800 gr de queijo meia cura ou parmesão ralado

Ferver o leite com a água, o óleo e o sal. Escaldar o polvilho e deixar esfriar um pouco. Juntar os ovos, um de cada vez, amassando bem. Misturar o queijo e amassar mais. Deixe gelar por 2 horas. Retire da geladeira e faça pequenas bolinhas e colocar em uma assadeira untada com óleo. Leve ao forno a 180 graus centígrados.

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Minas e a alimentação no final do século do ouro.

As notícias corriam o mundo sobre o ouro e os diamantes do Brasil, ainda mais coloridas pelas lendas e despertando a imaginação dos estrangeiros. Aqui era o novo Eldorado.Colhia-se ouro nos leitos dos rios e achavam-se diamantes, as vezes grandes, do tamanhod e ovos de pombo, nas enxurradas. A coroa portuguesa não permitia a entrada de estrangeiros, com medo de que descobrissem e lhe arrebatassem as riquezas ocultas no interior da colônia. Foi assim até a chegada do Principe Regente, quando se permitiu a entrada de viajantes ingleses, filhos da nação aliada de Portugal. Logo depois se permitiria a entrada de viajantes e cientistas de outras nações. A província das Geraes era a que mais atraía os estrangeiros. Nas primeiras décadas do século XIX a gricultura foi ocupando o espaço de importância econômica deixado pela mineração. O gado expandiu-se, principalmente no sul de Minas. Exporta-se gado para o Rio de Janeiro. Tem início a industria de laticínios. O leite produzido é de boa qualidade e com ele se fabrica o o famoso "queijo de minas". Ignora-se a fabricação de manteiga e não há a preparação para o fabrico da coalhada. Ao lado do gado cria-se uma grande quantidade de suínos, sobretudo nos distritos do oeste. A carne de porco e o toucinho são consumidos em grande proporção na alimentação das populações de Minas, Rio de Janeiro e São Paulo.

Agora as receitas :-)

Torresmo

2kg de toucinho de barriga
2 latas de óleo
Sal a gosto
1 cálice de cachaça

Corte o toucinho e cubos. Lavar, secar e temperar com sal e cachaça.
Coloque o óleo numa panela funda e de fuundo grosso, em quantidade suficiente para cobrir os torresmos. Colocar os torresmos e ligar o fogo, mantendo a chama baixa.
deixar cozinhar até branquear. Desligar e deixar esfriar.
Em outra panela aquecer bem o óleo e colocar os torresmos para pururucar.
Uma sugestão: ao retirar, polvilhar com farinha de mandioca por cima.

Canjiquinha com Costelinha

400gr de canjiquinha
1kg de costelinha
1/2kg de linguiça calabresa
1/2 xícara de óleo
2 tomates cortados em cubos
Couve
Cebola, alho, salsa e cebolinha a gosto
Caldo de carne
sal e pimenta malagueta a gosto

Deixar a canjiquinha de molho por aproximadamente 2 horas. Cozinhe em água abundante e reserve.
Cortar a costelinha em pedaços. Temperar com sal, alho e cebolas picados e a pimenta malagueta. Aquecer o óleo e fritar a costelinha. Quando estiver quase frita acrescentar a linguiça calabresa e mexer até que as duas fiquem douradas. Acrescentar os tomates picados em cubos, colocar a canjiquinha cozida e a água em que foi cozida. Se necessário, acrescentar um pouco de água quente. Prove o tempero e corrija, se necessário.
Picar a couve bem fina e colocar por cima. Decorar com salsinha e cebolinha picadas.

Bom apetite :-)

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Comida colonial

A partir de sexta feira, dia 13, começarei a falar da alimentação popular durante o período colonial no Brasil, mais especificamente em Minas Gerais.

Tive uns problemas pessoais e retomarei o Blog na sexta feira com novo tema.

Até lá :-)

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Festas VII

Quinta Feira da Ascensão

A Quinta-feira da Ascensão é conhecida popularmente como Dia da Espiga. Ocorre 40 dias após a Páscoa, caindo geralmente numa quinta-feira de Maio. É neste período que as espigas, ainda verdes, já estão formadas e começa o pão a amadurecer, segundo reza a tradição popular.(Amaro:1998)
A tradição do ramo de espiga, antigamente formado com um passeio aos campos, reveste-se também de um significado simbólico. Um ramo que reúne três espigas (geralmente de trigo, ou de um outro cereal); um ramo de oliveira e quatro flores, sendo mais comuns a papoula e o malmequer. Estes ramos destinavam-se a ser guaddados em casa até o ano seguinte, como fim de garantir abundância nas arcas e esperança. Cada elemento responde pelos seus atributos: as flores, que simbolizam o dinheiro, a alegria e a amizade; a oliveira (fonte do azeite, através do seu fruto), garantia do tempero alimentar e da luz(antigo combustível de iluminação); o trigo, ou outro cereal, a fartura do pão. A este molho poderia atar-se um merendeiro do dia e pendurava-se o conjunto na cantareira ou numa parede. No ano seguinte, o ramo, jáseco, era queimado e o pão, já duro, que milagrosamente não ganhava bolor, dava-se a comer à criação, dado o seu valor protetor.

As receitas agora:-)

Palitos de Oeiras

800gr de açúcar
375gr de farinha de trigo
10 ovos inteiros
10gr de canela
1 casca raspada de limão
125gr de manteiga

Mistura-se tudo muito bem, batendo a massa durante 15 minutos. Depois de bem trabalhada deita-se em tabuleiros estreitos e compridos, bem untados de manteiga. A altura da massa em tabuleiros não deve ser maior do que um dedo. Leve ao forno e corta-se em fatias de um dedo de largura e leve novamente ao forno para torrar.

Cozido Saloio

250gr de feijão branco
1,5kg de lombo de porco (o tradicional é feito com cabeça de porco)
2 nabos pequenos
1 molho de grelos (talos de verduras)
500gr de abóbora aos pedaços
4 batatas aos pedaços
1 chouriço de sangue
1 farinheira (enchido tradicional português)

Limpe a carne de porco e ponha-a para cozinhar com o feijão branco (demolhado de véspera). Quando estiverem quase cozidos, junte os nabos, os grelos, a abóbora, as batatas, o chouriço e a farinheira.

P.S: A farinheira é uma espécie de enchido (embutido) criado pelos cristãos-novos portugueses , durante o período da Inquisição, para substituir e simular o consumo de carne de porco. A farinheira é feita com farinha, massa de pimentão, colorau, vinho e, ultimamente, banha de porco. É defumada e a tripa não é muito cheia.

P.S2: Receita adaptada de Rota gastronômica e enológica de Loures.

Bom Apetite :-) Até amanhã!

domingo, 8 de janeiro de 2012

Festas VI

Festa dos Merendeiros, em Santo Isidoro

No Domingo seguinte à celebração da Páscoa, o povoado de Santo Isidoro, no Concelho de Mafra, celebra a Festa dos Merendeiros, em honra a Santo Isidoro. Esta tradição festiva esta ligada a uma lenda, na qual o cenário histórico remonta ao início do século XVIII, por conta de uma terrível seca. As sementes, mirradas ou "gelhas", no dizer local eram impróprias para o período de semeadura. Mesmo assim, os camponeses semearam os pequenos grãos de trigo, sob promessa ao seu padroeiro de que se essas sementes germinassem e dessem uma boa colheita, fariam uma festa e ofereceriam a cada pessoa um merendeiro. A colheita foi boa e o povo, agradecido, cumpriu a sua promessa.

Vejamos o que diz Manuel Gandra sobre a criação da Festa:

Nos primeiros anos cada lavrador-mordomo cozia os próprios merendeiros (pãezinhos com cerca de 250g) que constituiam a antiga oferenda, transportando-os para a igreja num carro de bois engalanado, diz-se com chocalhos. Uma vez chegado à morada do santo, onde os merendeiros haviam de ser bentos, rodeava-a três vezes. O ponto alto da festa era, e ainda continua a ser, atingido mquando chega o momento dos merendeiros serem distribuídos pelos que acorrem ao local. O ofertório (...) em louvor da abundância e da saúde (....) a todos quantos se encontram no recinto do adro da igreja (consiste) de um pão que lhes é entregue pelos mordomos (hoje já são lavradores). O cereal cozido e bento, é constituído, assim, durante um ano, em profilactico contra as doenças (...) o pão bento será tanto mais benfazejo quanto menos bolor criar durante o ano a que respeita. (Gandra: 1998).

Esta festa revela a associação entre o sagrado e o pão (benzido), alimento simbólico por excelencia, logo pelo papel central nas dietas populares. O significado da promessa, garantia de abundância, projeta-se também, através do merendeiro, portador de poderes curativos. A Festa dos Merendeiros continua a atrair milhares de pessoas. A sua organização fica sob a responsabilidade de uma comissão escolhida anualmente e conta com os apoios da Câmara Municipal e da junta de Freguesia de Santo Isidoro.

Agora as receitas :-)

Bolo Finto (Mafra)

Toma-se 1kg de farinha, abrindo-se uma cova no centro, na qual se colocam 250gr de massa de pão. Mistura-se aos poucos 250ml de leite, 125gr de manteiga derretida e 2 gemas. Depois junte 400gr de açúcar, 1 colher de chá de erva doce moída, 1 colher de chá de canela, sal e, se necessário, água. É importante que a massa fique bem consistente, deixando-a descansar e crescer coberta com um pano. Tendo crescido, estende-se a massa e faça em forma de ferradura, unte com banha e leve ao forno(fogo alto) em tabuleiros polvilhados com farinha.

P.S: Receita adaptada de Manuel J. Gandra. Sabores, cheiros e comeres de Mafra. Tradição e modernidade. Ericeira: Mar de Letras, 1998.

Carne de Porco às Mercês-Richoa

Carne d eporco picada
Alho
Vinho branco
Sal
Colorau
Louro
Banha

Tempere a carne de véspera com alho picado, colorau, louro, sal e vinho branco. No dia seguinte frite a carne em banha numa frigideira. Sirva-a com batatas fritas, azeitonas e pão saloio.

P.S: Receita adaptada de Carta Gastronômica do Concelho de Sintra.

Bom Apetite! Por hoje é só :-)

sábado, 7 de janeiro de 2012

Festas V

Páscoa

O período de floração, ou de renovação, é representado no calendário religioso pela Páscoa. Originada de uma festa judaica - Pessah - comemorativa da fuga do povo hebreu do Egito, no qual estava sujeito à escravatura. Este êxodo marcou um momento seminal de um período de liberdade para o povo judeu e era comemorado com o consumo de pão ázimo e o sacrifício de um cordeiro. A transferência para o cristianismo provocou uma ruptura a aprtir da morte e ressurreição de Jesus Cristo, o símbolo da renovação. O Domingo de Páscoa é marcado no calendário católico, desde o Concílio de Nicéia - em 325, no primeiro Domingo que segue a primeira lua Cheia após o Equinócio da Primavera.
A ligação entre a Ressurreição e a regeneração da Natureza - vitória sobre a morte, de outra perspectiva, sobre o Inverno - teve expressão em celebrações rituais diretamente ligadas à terra e à floração. No campo alimentar, a Páscoa é marcada pelos folares, pão / bolo que serve de oferenda, sobretudo dos padrinhos aos afilhados solteiros (para propiciar a abundância e a fecundidade) ou entre amigos e vizinhos (votos de estima e prosperidade, estreitamento de laços familiares). O folar é um bolo / pão arredondado de massa seca, doce, e ligada de farinha de trigo, ovos, leite, azeite, banha, açúcar, fermento com canela ou ervas aromáticas, que se pode incluir um ou mais ovos cozidos (Oliveira:1994). O folar circular ou ovalado, guarnecido de um ou mais ovos, acompanhados de pequenos pedaços da massa de trigo, enrolados e colocados em grade, segundo Sebastião Pessanha representavam a configuração clássica dos folares de toda a área saloia do termo de Lisboa, (vendidos), pela Semana Santa, nas confeitarias e padarias da Capital.
O ovo (símbolo da ressurreição) , assume uma simbologia ligada à fecundidade e abundância. A amêndoa - a amendoeira é a primeira árvore a florir na Primavera - assume o símbolo da abundância e fecundidade, e tendeu a generalizar-se como o mais comum meio de "trocas e ofertas" pascais, marcada pela expressão "dar ou receber amêndoas".
Na região de Mafra, a gastronomia tradicional da Páscoa iclui a canja com hortelã e o chamado cozido branco, feito com carne de vaca, toucinho e lingüiça. Em Alcabideche, no Concelho de Sintra, o tradicional almoço do Domingo de Páscoa era estrelado com o borrego em ensopado ou assado no forno - o cordeiro pascal. (Amaro:1990).

Agora as receitas :-)

Folar

Para a massa:
250ml de leite morno
2 colheres (chá) de fermento biológico seco
1 ovo
110g de açúcar
570g de farinha T65
1 colher (café) de erva-doce em pó
1 colher (café) de canela em pó
100g de manteiga ou margarina amolecida

Para decorar:
ovos cozidos em casca de cebola
1 ovo (pincelar)

Cozinhar os ovos em água com cascas castanhas e secas de cebola e sal. Escorrer e reservar.
Em uma gamela, juntar os ingredientes pela ordem mencionada. A massa no início parece pegajosa, mas com o amassar irá ficar macia, elástica e desprende-se.
Retirar a massa, que estará macia, e separar desta um pedaço equivalente a uma tangerina, para a decoração.
Dividir a massa, para dois folares, ou tomá-la toda, para um só folar, e na pedra enfarinhada moldar uma bola com a massa do folar, enrolando os lados para baixo e para dentro, tornando a superfície lisa.
Enfarinhar um tabuleiro forrado com papel vegetal ou tapete de silicone e moldar o folar. Com a mão fazer no centro as covas para os ovos. Colocar os ovos fazendo pressão para que se enterrem.
Dividir a massa, que foi separada para decoração, em número igual ao dos ovos usados e fazer rolinhos em cada porção. Dividir cada rolo a meio e fazer uma cruz em cima de cada ovo. Com o dedo empurrar as extremidades dos rolos, como se estivéssemos a fazer um furo na massa.
Pincelar com o ovo batido e deixar descansar 15min. enquanto o forno aquece.
Levar ao forno pré-aquecido, a 180ºC durante 30-35min.
Retirar e deixar esfriar numa rede.


Borrego Ensopado

1,5 kg de borrego (selas e costeletas)
2 cebolas grandes
6 dentes de alho
colorau o quanto baste
1 ramo de salsa
2 colheres de sopa de banha de porco
6 fatias finas de toucinho
1 fio de azeite
5 cravos
1 folha de louro
1 taça grande de vinho branco
Sal o quanto baste
Batatas
Vinagre a gosto
Pão duro

Em uma panela frite as fatias de toucinho na banha de porco. Logo em seguida coloque o borrego temperado, as cebolas cortadas em rodelas finas, o alho também cortado em rodelas finas. Junte o sal, o ramo de salsa, o colorau, o azeite, o vinho branco e um pouco de água. deixed refogando. Corte as batatas em rodelas. Quando o borrego estiver quase cozido, junte as batatas e os cravos. Um pouco antes de retirar do fogo acrescente o vinagre. Corte em fatias o pão duro, disponha-os em uma saladeira e coloque por cima o caldo do ensopado. Sirva o ensopado bem quente acompanhado pelas batatas.

Por hoje é só :-) Bom Apetite! \0/