domingo, 15 de janeiro de 2012

A Alimentação nos Primórdios de Minas Gerais

Historicamente, a fartura alimentar nunca foi a tônica do povo de Minas Gerais. A comida dos paulistas que partiam para o interior na caça de índios e na busca de metais preciosos era uma das mais pobres, exceto, logicamente, a de alguns potentados. A base da alimentação da população encontrava-se no milho e na mandioca. As plantações de mandioca eram insuficientes e na canjica não se utilizava o sal, uma vez que este ingrediente não estava disponível a todos.
Findo o plantel indígena na costa do mar, de Paranaguá à capitania do Espírito Santo, os paulistas partem para o Sertão, reunidos em bandeiras, alguns conseguiram chegar ao distrito do Rio das Mortes e à antiga Vila Rica, hoje Ouro Preto, onde ocorreram as primeiras descobertas auríferas. E nisto fica a pergunta sobre como os bandeirantes se alimentavam em sua epopéia pelos sertões? Tudo que cruzasse o caminho era alimento; todo gênero de caças, veados, antas, capivaras, macacos, quatis, onças, cervos e aves diversas, e em outras ocasiões , cobras, lagartos, formigas e até, segundo Afonso de E. Taunay, "uns bichos mui alvos que se criam em taquaras e paus pôdres". Os bandeirantes serviam-se de mel de abelhas, porcos, palmitos, e grelos da samambaia, carás do mato e outras raízes. Também não faltava peixe na dietética bandeirante, uma vez que carregavam consigo anzóis e linhas; o peixe era cozido em taquara quando pequeno e assado quando grande.
Mais complicado que encontrar ouro, era o problema de alimentar os mineiros. Pouco se plantava. As roças produziam muito pouco. Afonso Taunay citou uma missiva anônima que falava do cotidiano no Ribeirão do Carmo:

E era tal a falta de mantimentos, que se vendia no Ribeirão um alqueire de milho por 20 oitavas e de farinha por 32 e o de feijão por 32; uma galinha por 12 oitavas, um cachorrinho ou um gatinho por 32, uma vara de fumo por 5 oitavas e um prato pequeno de estanho cheio de sal por 8. E tudo o mais a êste respeito por cuja causa e fome morreu muito gentio, tapunhos e carijós, por comerem bichos da taquara que para os comer é necessário estar um tacho no fôgo bem quente e aliás vão botando os que estão vivos logo bolem com a quentura que são os bons e se se come algum que esteja morto é veneno refinado".

Se alimentar do "bicho da taquara" era um hábito dos indígenas, que apreciavam esta larva, como informou em suas "Cartas" o Padre Anchieta:

"Nascem entre as taquaras certos bichos roliços e compridos, todos brancos, da grossura de um dedo, aos quais os índios chamam raú, e costumam comer assados e torrados. Há-os em tão grande porção, indistintamente amontoados, que fazem com êles um guisado que em nada difere da carne de porco estufada ..."

Os escravos viviam em condições terríveis, em andrajos ou semi-nus, sofriam bastante com a pobreza da alimentação. Compensavam a fome na cachaça e no tabaco, enganando o estômago da falta de comida. Como Taunay relatou o cotidiano do escravo que trabalhava na mina:

"Indivíduos tão alucinados pelo ouro havia que, vindos da distância de 30 e 40 dias de jornada, partiam sem provimento algum. Assim, pelo caminho, muitos acabaram de irremediável inanição. E houve quem matasse ao companheiro por lhe tomar uma pipoca de milho que do seu borralho saltara para o do outro, dos poucos grãos que cada qual tinha para alimentar a vida naquele dia. Em vasta escala naquelas terras comprovava-se o provérbio de que a fome não tem lei".

Enfim, os primeiros habitantes das minas não pretendiam se dedicar a labuta do plantio da terra. A falta de estradas agravava ainda mais o desabastecimento, muito bem estudado no clássico de Mafalda Zemella - O abastecimento da Capitania das Minas Gerais no século XVIII. Fora das estradas que levavam às barreiras de controle e cobrança dos direitos de passagem, a Coroa não autorizava a abertura de outras estradas e as existentes não passavam de trilhas, aprincipio utilizadas somente por pedestres. Depois de algum tempo o escravo foi substituído pelas mulas no trasnporte de mercadorias. Negros fugidos e criminosos assaltavam a stropas com carregamento d egêneros alimentícios e outras mercadorias, desarticulando a atividade de negociantes e tropeiros. Por conta desses motivos, a escassez de mantimentos foi uma constante, gerando períodos de garnde fome em 1698, 1700 e 1713, respectivamente. Várias pessoas se retiraram para a mata na caça de víveres, ou retornaram aos seus povoados de origem. Nos anos subseqüentes, já com as roças produzindo, os mineiros voltaram a lavrar.

Agora vamos às 3 receitas:

Lombo de Porco à Mineira

2 kg de lombo de porco;
1 colher (sopa) de tempero mineiro.

Tempero Mineiro:
200 gramas de alho;
1/2 kg de cebola;
1 molho de cebolinha verde;
2 pimentões verdes;
2 kg de sal;
1 molho de salsa.

Tempero Mineiro: picar a cebola, o alho, os pimentões, cebolinha e salsa. Bater no liquidificador. Engrossar com o sal.
De véspera, temperar o lombo, furando-o com espeto. No outro dia, colocar o lombo numa assadeira untada e levá-lo a forno brando. De vez em quando, para que asse por igual, borrifá-lo com água. Quando estiver macio, deixar corar. Enfeitar com salsa e rodelas de limão.


Lagarto Encapotado

Temperos:
suco de 1 limão grande;
1 cebola média;
1 dente de alho;
sal a gosto;
1 folha de louro;
pimenta-do-reino.

Assado:
02 kg de lagarto;
sal;
100 gr. de bacon fatiado;
100 gr. de toucinho defumado;
02 colheres (sopa) de manteiga.

Massa:
3 xícaras de chá de farinha de trigo;
1 tablete de fermento; sal a gosto;
2 colheres de sopa de margarina;
100 gr. de creme de leite azedo;

Misture em uma panela grande, o suco de limão, cebola picada, alho socado com sal, folha de louro e a pimenta. Limpe bem a carne, sem tirar a capa de gordura que a envolve. Coloque-a no tempero e deixe tomar gosto de um dia para o outro, virando-a de vez em quando. Retire a carne do tempero e a enxugue com um guardanapo. Tempere com sal, enrole bacon em volta e amarre com barbante. Pique o toucinho bem miúdo e frite-o na própria gordura. Depois de frito, retire os torresmos e refogue a carne na gordura da panela, virando-a para dourar por igual. Depois, passe-a para uma assadeira, espalhe a manteiga por cima e leve ao forno pré-aquecido, por trinta minutos, regando-a de vez em quando com o próprio caldo da assadeira. Enquanto isso, prepare a massa: peneire a farinha de trigo em uma tigela, abra uma cavidade ao meio e adicione o fermento partido em pedaços, junte doze colheres (sopa) de água morna e misture com as pontas do dedo, juntando um pouco de farinha dos lados. Cubra e deixe repousar por 15 minutos em lugar morno. Acrescente uma pitada de sal e os ovos. Misture e sove até a massa ficar seca e aveludada. Cubra e deixe repousar por mais 20 minutos. Polvilhe uma mesa com farinha de trigo e abra a massa na espessura de ½ centímetro. Retire a carne do forno e deixe escorrer bem a gordura, sem desamarrar o bacon, coloque a massa sobre a massa e enrole-a, fechando as extremidades com a ponta de uma colher. Faça três buracos na parte de cima, para sair o vapor. Retire o caldo da assadeira e reserve. Derreta a margarina na mesma assadeira e coloque a carne com o lado que fechou a massa para cima, leve ao forno pré-aquecido e asse por uma hora. Coloque o enrolado em uma travessa, aqueça o caldo reservado e adicione o creme de leite sem deixar ferver. Sirva este molho a parte.


Bolo Caipira

3 ovos;
1 prato de mandioca cozida;
1 xícara de chá de coco ralado;
açúcar a vontade;
2 colheres de sopa de farinha de mandioca fina;
2 colheres de sopa de manteiga;
1 colher de sopa de fermento em pó.

Modo de preparo: Misture bem a mandioca cozida com a farinha de mandioca. Junte os ovos, um a um, bata mais um pouco e vá adicionando a manteiga, o açúcar, quantidade necessária, o coco ralado e por último, o fermento. Deixe a massa descansar por uma hora, e depois leve a assar em forno quente.

Bom Apetite! :-)


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