quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Os Viajantes nas Minas Gerais: alimentação e cotidiano I

John Mawe foi o primeiro viajante estrangeiro que penetrou nas Minas Gerais. Com a permissão do Principe Regente, o naturalista britânico durante seis meses, no ano de 1809, andou e pesquisou minerais nos distritos do ouro e do diamante, publicando no seu regresso à Inglaterra um diário de viagens que empreendeu no interior do Brasil, com informações diversas inclusive sobre alimentação.
Ao entrar na Capitania de Minas, já conhecida no Rio de Janeiro pela excelência de seus queijos, o viajante britânico esperava encontrar condições de agricultura melhores do que já havia observado no país. No entanto, teve uma ilusão, uma vez que afirmou que não vira estabelecimento que merecesse o nome de fazenda. As casas dos agricultores e criadores, velhas e destruídas, não ofereciam a mínima possibilidade de conforto e Mawe não notava uma aparência de saúde entre os moradores, que seria algo típico de quem vivia no campo. Não havia pasto cercado, o terreno era coberto de ervas daninhas e espinheiros. Raramente se obtinha leite de vaca: o que se precisava era obtido de cabras. No entanto, o gado dava um bom preço; vaca e bois custavam em torno de quarenta chelins a cabeça. Um cavalo de qualidade custava de sessenta chelins a oito libras. Porcos e aves eram baratos. Havia madeira em abundância para construir e queimar.
Em Borda do Campo, povoado de umas vinte casas, o viajante britânico hospedou-se na casa de uma família de posses. O chefe da casa era o Capitão Rodrigo de Lima, que o apresentou á família, que Mawe considerou um exemplo de polidez. Havia vinho no jantar, mas as senhoras apenas provaram, molhando a ponta dos lábios no copo quando faziam as saudações. Após o jantar, a mesa foi tomada por doces, cujo hóspede elogiou a qualidade, na certeza de que o preparo deu-se sob a orientação da dona da casa. Mas, logo foi demovido da idéia pela anfitriã, uma vez que ela afirmou que todos os trabalhos domésticos eram feitos por suas escravas. Era quase uma ofensa afirmar que uma senhora trabalhava.
Passando por Vila Rica, atual Ouro Preto, Mawe criticou a hospedaria, chamando-a de miserável. O pão tinha um aspecto bom; a carne denominou de passável; o leite, chamou de caro; a shortaliças e legumes, considerou raros. Calculava-se a população em torno de 8.000 habitantes. Não havia livraria, nem biblioteca pública. Em duas fazendas de propriedade do Conde de Linhares, notadas por outro viajante estrangeiro, John Emanuel Pohl, austríaco, em que a maneira de se alimentar era semelhante ao dos mineiros dos arredores de São Paulo. O administrador, o intendente e os feitores comiam conjuntamente o trivial: no almoço, feijão preto com farinha de milho e um pouco de toucinho frito ou de carne de sol cozida; no jantar, um pedaço de porco assado; na ceia hortaliças cozidas e um pouco de toucinho para lhes dar gosto. A bebida que acompanhava era a água. Nos dias de festa, ou quando recebiam visitas, servia-se a galinha cozida. Os negros eram alimentados no almoço e na ceia, com farinha de milho misturada com água quente, o conhecido angú, no qual punham um pedaço de toucinho; no jantar, davam-lhes feijão.
No Arraial do Tejuco, Pohl encontrou uma sociedade, segundo ele, agradável, em cujas reuniões os homens jogavam "whist" e as senhoras tomavam chá. A carne d evaca era má, preferia-se a de porco e havia caça disponível. O pão era de milho.

Agora vamos às rceitas :-)

Picadinho à Mineira

2 colheres de sopa de manteiga;
3 cebolas picadas;
500 gr. de alcatra, coxão mole ou patinho;
sal a gosto;
pimenta-do-reino;
1 xícara de chá de suco de laranja;
1 colher de sopa de raspas de casca de laranja;
½ lata de creme de leite.

Aqueça a manteiga e doure a cebola. Frite a carne picadinha, mantendo a chama alta para não juntar suco, tempere-a com sal e pimenta. Quando a carne estiver frita, junte o suco e as raspas de laranja, abaixe o fogo, tampe a panela e deixe cozinhar até ficar bem macia, junte mais água, se necessário, para que sobre um pouco de molho. Por último, misture o creme de leite e retire do fogo antes de ferver.

Cozido Serraniense

6 ovos inteiros;
1 kg. de coxão duro ou peito;
1 rabada bovina com bastante carne;
1 kg. de lingüiça de porco;
1 kg. de lombo de porco (cortado e temperado);
2 paios;
200 gr. de toucinho defumado;
4 cebolas médias;
½ abóbora;
2 raízes de mandioca;
1 repolho pequeno;
4 cenouras médias;
2 batatas inglesas;
2 carás;
2 nabos;
3 batatas doce médias;
2 maço de couve;
2 pimentões;
6 bananas da terra;
1 pedaço de aipo;
1 alho poro;
½ kg. de tomates;
3 dentes de alho, cheiro-verde, pimentas vermelhas;
folhas de louro, limão, sal e óleo;
06 espigas de milho;
farinha de rosca.

1a. ETAPA - Limpe a rabada, corte-a em pedaços e tempere de véspera. Junte com o coxão duro, cortado e temperado com alho socado, sal, pimenta e limão. Leve uma panela ao fogo com um pouco de óleo, junte as carnes, doure a acrescente as cebolas inteiras, os tomates e os pimentões picadinhos, louro, cheiro-verde picado, um pedaço de aipo e o alho poro. Refogue e cubra com água. Deixe ferver, brandamente, até a carne começar a amaciar.


2a. ETAPA - Coloque o paio, o toucinho, a lingüiça e o lombo e deixe ferver. Acrescente o milho, a abóbora, o nabo, o cará, as batatas doce e inglesa, as cenouras, o repolho, as folhas de couve (enroladas e amarradas) e a mandioca. Prove o tempero, se necessário, acrescente mais água. Tampe a panela e deixe em fogo brando para ferver, até que tudo fique bem cozido. A medida que os legumes forem cozinhado, vá retirando e passando para outra panela, a fim de não amolecerem demais. Depois de prontos, junte as bananas da terra e retire-as do caldo, conforme forem cozinhando. Tudo pronto, retire do fogo, separe um pouco de caldo, coe e reserve para o pirão.

3a. ETAPA - Leve uma panela ao fogo com o caldo reservado. Quando ferver, diminua a chama e, mexendo sempre, acrescente a farinha de mandioca aos poucos, até engrossar e tomar consistência.

4a. ETAPA - Arrume o cozido em três travessas grandes, da seguinte maneira: em uma delas, coloque todos os legumes e o milho, circundando com as bananas. Regue um pouco com molho e enfeite o centro com pimentão, nabos e tomates. Em outra travessa, coloque o pirão e rodeie com fatias de ovos cozidos e galhos de salsa. Na outra travessa, coloque as carnes (rabada, coxão duro, lombo, lingüiça e paio). Sirva com molho picante.


Bolo Cremoso de Fubá

3 ovos;
3 xícaras de chá de açúcar;
5 xícaras de chá de leite;
1 pires de queijo ralado ou coco;
1/2 xícara (chá) de fubá de milho;
2 colheres de sopa de farinha de trigo;
1 colher de chá de fermento em pó;
2 colheres de sopa de manteiga ou margarina; 1/2 lata de leite condensado.

Coloque todos os ingredientes no liqüidificador e bata por 5 minutos, despeje em forma untada e leve ao forno até ficar bem assado.

Bom Apetite :-)




terça-feira, 17 de janeiro de 2012

A mandioca, o milho e os preços altos nas Minas Gerais .

A mandioca era o principal alimento da região das minas; era o principal sustento e o pão diário dos habitantes da região. Em seguida vinha o milho,a grande dádiva alimentar do continente americano. Um anônimo, na primeira década do século XVIII, dissertou a respeito das "muitas comidas que se fazem do milho": pipocas, curau, pamonhas, farinha, cuscuz, biscoitos, bolos, cerveja de milho verde, agurdente, canjica que "os ricos comem por gôsto e os pobres por necessidade". O fubá servia principalmente para fazer o angu dos escravos, cozido em grandes quantidades em tachos de água quente.
O jesuíta Antonil-Andreoni, em sua obra Cultura e opulência do Brasil por sua drogas e minas, apresenta alguns dados comparativos de preços de detrminados artigos em São Paulo e nas regiões das Minas, no início do século XVIII. Logo, um alqueire de farinha que em São Paulo cobrava-se 640 reis, nas minas cobrava-se 43.000 réis; uma libra de açúcar, 120 réis, em S~~ao Paulo e 1.200 réis nas minas; uma galinha custava 160 réis em São Paulo, nas minas o preço passava para 4.000 réis; um boi de corte custava 2.000 réis, nas minas 120.000 réis; um escravo negro que poderia valer na costa de 85 a 100.000 réis, nas minas poderia ser negociado por até 6 vezes o valor cobrado na costa.

Agora vamos às receitas:

Galinhada Mineira

250 g de arroz
1 cebola média
2 dentes de alho
1 galinha
1 folha de louro
4 colheres de sopa de óleo
2 pimentões vermelhos picados
3 tomates maduros picados

Corte a galinha pelas juntas. Numa panela grande, coloque o óleo e leve a galinha, até que doure. Junte todos os temperos, refogue bem e vá juntando água, até que a galinha amacie (se usar frango, não é necessário) Junte o arroz, acrescente água fervendo e deixe cozinhar em fogo forte, reduzindo depois, quando estiver secando. Tampe e deixe até estar pronto o arroz.

Tutu de feijão com lingüiça e couve

1/2 Kg de feijão já cozido e temperado
1/2 xícara (chá) de farinha de mandioca
1 colher (chá) de tempero caseiro
2 ovos cozidos
1 Kg de toucinho para torresmos
1 Kg de lingüiça

Bata o feijão preparado, com o caldo, no liqüidificador. Com o toucinho, faça os torresmos (fritando em óleo bem quente). Num pouco da gordura dos torresmos, refogue o tempero e adicionar a massa de feijão. Em seguida, mexendo sempre, distribuir lentamente por cima, como chuva, a farinha de mandioca até que fique um pirão mole. Junte o torresmo, os ovos cozidos e a lingüiça. Passar o tutu para uma travessa, guarnecendo-o com couve à mineira e pedaços de lingüiça frita.


Couve à Mineira

2 molhos de couve manteiga;
3 colheres (sopa) de toucinho derretido;
sal.

Tirar as folhas, lavar e retirar delas os talos. Colocá-las umas dentro das outras formando um feixe redondo enrolado com aperto. Com uma faca afiada cortar o mais fino possível. Numa frigideira derreter o toucinho e esquentar bem. Jogar a couve, polvilhar de sal, mexendo rapidamente.

Bolo Cremoso de Milho Verde

2 xícaras de chá de milho verde;
2 xícaras de chá de açúcar;
1 xícara de chá de leite;
1 xícara de chá de leite de coco;
3 colheres de sopa de manteiga;
4 colheres de sopa de queijo ralado;
3 ovos inteiros;
5 colheres de sopa de farinha de trigo

Bater todos os ingredientes no liqüidificador, misturar levemente 1 colher de fermento em pó, colocar em forma untada e levar ao forno para assar.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

A Alimentação no tempo do Conde de Assumar

O Conde Assumar governou a Capitania das Minas Gerais de 1717 a 1721. Durante a sua administração uma das principais dificuldades era se alimentar com carne bovina, um dos gêneros indispensável à alimentação dos mineradores. Houve uma ação do Conde em tentar minimizar a falta, importando cabeçasd e de São Paulo, Curitiba e dos sertões da Bahia e Pernambuco. O Governador de Província fazia o cálculo de 18 a 20 mil cabeças de gado necessárias ao consumo anual dos moradores, que no período beirava número de 30 mil habitantes. Para regularizar a importação, o Conde de Assumar estabeleceu uma série de contratos de fornecimento de carne, gerando depois uma série de conflitos entre paulistas e emboabas. Da mesma forma, o controle sobre a produçãod e aguardente também chegou a gerar uma revolta em 1720, na vila de Pitangui.
Dos sertões da Bahia abriu-se caminho para guiar o gado até a região das minas. No entanto, a cabeça de gado era muito cara e o transporte cheio de perigos. Os campos e as montanhas tinham sido despojados de suas caças e alimentos silvestres pela população das minas. Embrenhar-se nos sertões inóspitos era arrostar a falta de caminhos, as perigosas montanhas, os traiçoeiros brejos e atoleiros, atarvessar os riso a nado; enfrentar os bugres, as feras e as cobras no espaço da solidão da mata, a erva venenosa, os carrapatos, as vespas, as moscas varejeiras. Cada um, com o seu farnel frugal, partia na certeza de encontrar o ouro. E encontrava, muitas vezes, o pior de todos os padecimentos: a fome.
O que comia um homem da lavra? Comia o pouco do que se produzia nas roças. Milho, feijão, farinha de pau e algum tipo de fruta da terra. O escravo negro, pau para toda obra, montava o tripé de varas, fincado no chão, e pendurava o caldeirão de ferro, no qual cozinhava o feijão com o toucinho, servido em pratos de estanho. Estendia-se a farinha ao sol numa toalha. Frango, ovos e doces eram raros por conta do preço proibitivo.
A escassez de alimentos durou todo o período colonial, não só em minas mas, também, na região dos engenhos. No final do século XVIII, a crise de alimentos revelava-se nos documentos oficiais. Os governadores empenhavam-se em que os lavradores plantassem além da mandioca, o feijão e o milho, para não deixar ocorrer uma crise de desabastecimento e gerar revoltas nos povoados.

Agora vamos às receitas:

Abobrinha Sertaneja

1 Kg de abobrinha
100 g de carne seca
100 g de lombinho defumado
100 g de linguiça de porco
100 g de carne de porco salgada
100 g de toucinho defumado
1 dente de alho socado
1 pimentão vermelho
1 pimentão verde
1 tomate verde
1 cebola roxa grande
1 colher (sopa ) de extrato de tomate.

Lave a abobrinha e corte-a em rodelas. Coloque água para ferver com sal e afervente a abobrinha por 5 min. Escorra. Retire o sal das carnes e corte-as em pedaços. Frite o toucinho e junte a carne até dourar. Adicione o alho e deixe dourar. Corte os pimentões em tirinhas, pique o tomate e a cebola, junte o vinagre e o extrato de tomate. Acrescente tudo à carne e misture bem. Retire do fogo, não deixe os temperos fritar. Retire toda a carne da panela, deixando um pouco de gordura. Coloque a abobrinha nessa panela e leve ao fogo baixo, mexendo para envolvê-la bem na gordura. Retire do fogo e coloque a abobrinha numa fôrma. Despeje por cima a carne com os temperos. Sirva quente.


Feijão Tropeiro Mineiro

2 kg de carne de porco (lombo);
500 gr. de toucinho;
2 kg de feijão de corda;
1 kg de farinha de mandioca torrada;
cheiro-verde; óleo;
sal a gosto;
alho e cebola.

Coloque o feijão para cozinhar a parte. Em uma panela de ferro, frite o toucinho, picadinho. Amasse o alho com sal, pique a carne em pedaços e tempere bem. Depois de fritar o toucinho, retire os torresmos, escorra-os e reserve. Deixe um pouco de banha na panela e frite a cebola picadinha até ficar dourada. Coloque um pouco de açúcar e deixe corar. Acrescente a carne e frite bem. Depois de frita, junte o feijão cozido, o torresmo, o cheiro-verde picadinho e vá adicionando a farinha de mandioca, mexendo sempre com uma colher de pau, até ficar bem homogênea. Deixe no fogo por alguns minutos e sirva com arroz.


Bolo de Batata Doce Mineiro

3 xícaras (chá) de batata-doce, cozida e amassada com garfo;
2 xícaras (chá) de leite;
4 claras; 1 pitada de sal;
2 1/2 xícaras (chá) de açúcar;
1 xícara (chá) de margarina (200 g);
4 gemas;
1 xícara (chá) de maisena;
2 xícaras (chá) de farinha de trigo;
2 colheres (sopa) de fermento em pó

Bata a batata no liqüidificador com o leite e reserve. Bata as claras em neve com o sal e reserve. Bata em creme, o açúcar com a margarina e as gemas. Acrescente a batata reservada, a maizena, a farinha e o fermento. Por último, misture levemente as claras. Coloque numa assadeira (grande) untada e enfarinhada. Leve ao forno médio, por 35 minutos. Corte em quadrados regulares.

Bom Apetite! :-) Até logo :-)


domingo, 15 de janeiro de 2012

A Alimentação nos Primórdios de Minas Gerais

Historicamente, a fartura alimentar nunca foi a tônica do povo de Minas Gerais. A comida dos paulistas que partiam para o interior na caça de índios e na busca de metais preciosos era uma das mais pobres, exceto, logicamente, a de alguns potentados. A base da alimentação da população encontrava-se no milho e na mandioca. As plantações de mandioca eram insuficientes e na canjica não se utilizava o sal, uma vez que este ingrediente não estava disponível a todos.
Findo o plantel indígena na costa do mar, de Paranaguá à capitania do Espírito Santo, os paulistas partem para o Sertão, reunidos em bandeiras, alguns conseguiram chegar ao distrito do Rio das Mortes e à antiga Vila Rica, hoje Ouro Preto, onde ocorreram as primeiras descobertas auríferas. E nisto fica a pergunta sobre como os bandeirantes se alimentavam em sua epopéia pelos sertões? Tudo que cruzasse o caminho era alimento; todo gênero de caças, veados, antas, capivaras, macacos, quatis, onças, cervos e aves diversas, e em outras ocasiões , cobras, lagartos, formigas e até, segundo Afonso de E. Taunay, "uns bichos mui alvos que se criam em taquaras e paus pôdres". Os bandeirantes serviam-se de mel de abelhas, porcos, palmitos, e grelos da samambaia, carás do mato e outras raízes. Também não faltava peixe na dietética bandeirante, uma vez que carregavam consigo anzóis e linhas; o peixe era cozido em taquara quando pequeno e assado quando grande.
Mais complicado que encontrar ouro, era o problema de alimentar os mineiros. Pouco se plantava. As roças produziam muito pouco. Afonso Taunay citou uma missiva anônima que falava do cotidiano no Ribeirão do Carmo:

E era tal a falta de mantimentos, que se vendia no Ribeirão um alqueire de milho por 20 oitavas e de farinha por 32 e o de feijão por 32; uma galinha por 12 oitavas, um cachorrinho ou um gatinho por 32, uma vara de fumo por 5 oitavas e um prato pequeno de estanho cheio de sal por 8. E tudo o mais a êste respeito por cuja causa e fome morreu muito gentio, tapunhos e carijós, por comerem bichos da taquara que para os comer é necessário estar um tacho no fôgo bem quente e aliás vão botando os que estão vivos logo bolem com a quentura que são os bons e se se come algum que esteja morto é veneno refinado".

Se alimentar do "bicho da taquara" era um hábito dos indígenas, que apreciavam esta larva, como informou em suas "Cartas" o Padre Anchieta:

"Nascem entre as taquaras certos bichos roliços e compridos, todos brancos, da grossura de um dedo, aos quais os índios chamam raú, e costumam comer assados e torrados. Há-os em tão grande porção, indistintamente amontoados, que fazem com êles um guisado que em nada difere da carne de porco estufada ..."

Os escravos viviam em condições terríveis, em andrajos ou semi-nus, sofriam bastante com a pobreza da alimentação. Compensavam a fome na cachaça e no tabaco, enganando o estômago da falta de comida. Como Taunay relatou o cotidiano do escravo que trabalhava na mina:

"Indivíduos tão alucinados pelo ouro havia que, vindos da distância de 30 e 40 dias de jornada, partiam sem provimento algum. Assim, pelo caminho, muitos acabaram de irremediável inanição. E houve quem matasse ao companheiro por lhe tomar uma pipoca de milho que do seu borralho saltara para o do outro, dos poucos grãos que cada qual tinha para alimentar a vida naquele dia. Em vasta escala naquelas terras comprovava-se o provérbio de que a fome não tem lei".

Enfim, os primeiros habitantes das minas não pretendiam se dedicar a labuta do plantio da terra. A falta de estradas agravava ainda mais o desabastecimento, muito bem estudado no clássico de Mafalda Zemella - O abastecimento da Capitania das Minas Gerais no século XVIII. Fora das estradas que levavam às barreiras de controle e cobrança dos direitos de passagem, a Coroa não autorizava a abertura de outras estradas e as existentes não passavam de trilhas, aprincipio utilizadas somente por pedestres. Depois de algum tempo o escravo foi substituído pelas mulas no trasnporte de mercadorias. Negros fugidos e criminosos assaltavam a stropas com carregamento d egêneros alimentícios e outras mercadorias, desarticulando a atividade de negociantes e tropeiros. Por conta desses motivos, a escassez de mantimentos foi uma constante, gerando períodos de garnde fome em 1698, 1700 e 1713, respectivamente. Várias pessoas se retiraram para a mata na caça de víveres, ou retornaram aos seus povoados de origem. Nos anos subseqüentes, já com as roças produzindo, os mineiros voltaram a lavrar.

Agora vamos às 3 receitas:

Lombo de Porco à Mineira

2 kg de lombo de porco;
1 colher (sopa) de tempero mineiro.

Tempero Mineiro:
200 gramas de alho;
1/2 kg de cebola;
1 molho de cebolinha verde;
2 pimentões verdes;
2 kg de sal;
1 molho de salsa.

Tempero Mineiro: picar a cebola, o alho, os pimentões, cebolinha e salsa. Bater no liquidificador. Engrossar com o sal.
De véspera, temperar o lombo, furando-o com espeto. No outro dia, colocar o lombo numa assadeira untada e levá-lo a forno brando. De vez em quando, para que asse por igual, borrifá-lo com água. Quando estiver macio, deixar corar. Enfeitar com salsa e rodelas de limão.


Lagarto Encapotado

Temperos:
suco de 1 limão grande;
1 cebola média;
1 dente de alho;
sal a gosto;
1 folha de louro;
pimenta-do-reino.

Assado:
02 kg de lagarto;
sal;
100 gr. de bacon fatiado;
100 gr. de toucinho defumado;
02 colheres (sopa) de manteiga.

Massa:
3 xícaras de chá de farinha de trigo;
1 tablete de fermento; sal a gosto;
2 colheres de sopa de margarina;
100 gr. de creme de leite azedo;

Misture em uma panela grande, o suco de limão, cebola picada, alho socado com sal, folha de louro e a pimenta. Limpe bem a carne, sem tirar a capa de gordura que a envolve. Coloque-a no tempero e deixe tomar gosto de um dia para o outro, virando-a de vez em quando. Retire a carne do tempero e a enxugue com um guardanapo. Tempere com sal, enrole bacon em volta e amarre com barbante. Pique o toucinho bem miúdo e frite-o na própria gordura. Depois de frito, retire os torresmos e refogue a carne na gordura da panela, virando-a para dourar por igual. Depois, passe-a para uma assadeira, espalhe a manteiga por cima e leve ao forno pré-aquecido, por trinta minutos, regando-a de vez em quando com o próprio caldo da assadeira. Enquanto isso, prepare a massa: peneire a farinha de trigo em uma tigela, abra uma cavidade ao meio e adicione o fermento partido em pedaços, junte doze colheres (sopa) de água morna e misture com as pontas do dedo, juntando um pouco de farinha dos lados. Cubra e deixe repousar por 15 minutos em lugar morno. Acrescente uma pitada de sal e os ovos. Misture e sove até a massa ficar seca e aveludada. Cubra e deixe repousar por mais 20 minutos. Polvilhe uma mesa com farinha de trigo e abra a massa na espessura de ½ centímetro. Retire a carne do forno e deixe escorrer bem a gordura, sem desamarrar o bacon, coloque a massa sobre a massa e enrole-a, fechando as extremidades com a ponta de uma colher. Faça três buracos na parte de cima, para sair o vapor. Retire o caldo da assadeira e reserve. Derreta a margarina na mesma assadeira e coloque a carne com o lado que fechou a massa para cima, leve ao forno pré-aquecido e asse por uma hora. Coloque o enrolado em uma travessa, aqueça o caldo reservado e adicione o creme de leite sem deixar ferver. Sirva este molho a parte.


Bolo Caipira

3 ovos;
1 prato de mandioca cozida;
1 xícara de chá de coco ralado;
açúcar a vontade;
2 colheres de sopa de farinha de mandioca fina;
2 colheres de sopa de manteiga;
1 colher de sopa de fermento em pó.

Modo de preparo: Misture bem a mandioca cozida com a farinha de mandioca. Junte os ovos, um a um, bata mais um pouco e vá adicionando a manteiga, o açúcar, quantidade necessária, o coco ralado e por último, o fermento. Deixe a massa descansar por uma hora, e depois leve a assar em forno quente.

Bom Apetite! :-)


sábado, 14 de janeiro de 2012

Impressões sobre alimentação em Minas I

Alceu Amoroso Lima saudou a sobriedade mineira em um artigo de 1945, afirmando que "o mineiro come pouco e come da comida mais simples possível", de tal modo que "a cozinha e a adega mineiras seriam consideradas com desprêzo pelos gourmets". Ainda afirmou que "a mesa é sempre um acessório", em Minas, por isso que, no fundo, o homem mineiro a despreza, "com a sua vocação irresistível para a predominância do espírito".
Em referência aos mineiros faz-se necessário afirmar que trata-se do conjunto de habitantes do estado de Minas Gerais, tanto os do passado quanto os do presente. De uma maneira geral, podemos afirmar que o mineiro é sóbrio no hábito de comer. Mas, isto seria a característica de todo brasileiro, como afirmou Dante da Costa quando apontou o contraste que havia entre o sensualismo alimentar dos portugueses; segundo ele "considerado como um dos traços marcantes da cultura lusitana", e a "ausência de interesse anímico dos brasileiros pelo alimento, atitude quase de ausência daquele sensualismo, tão facilmente observável entre as camadas populares do Brasil". Alimentar-se bem pode ser uma herança lusitana, mais aplicada às classes mais abastadas. As camadas populares, tanto de lá quanto daqui se alimentavam muito mal.

Agora duas receitas tradicionais.


Vaca Atolada.

Dizem que o nome desse prato deve-se a sua aparência, quando pronto, lembra a imagem do gado, que atravessava o território mineiro, atolado nos brejos das trilhas dos tropeiros. Mas, vamos ao prato.

2 cebolas grandes cortadas em rodelas
1 kg de costelas de vaca
1 kg de mandioca
3 gotas de pimenta malagueta
3 colheres de sopa de óleo
1 colher de chá de Tempero Mineiro
1 tomate grande

Tempere as costelas de vaca (partidas em pedaços). Refogue-as no óleo até corar. Pingue água até cozinhar. Acrescente a mandioca aos pedaços (previamente descascadas, lavadas e escorridas) e o tomate. Quando a mandioca estiver quase cozida, acrescente as cebolas em rodelas. Deixe ferver mais um pouco até cozinhar. Disponha em uma travessa com as costelas por baixo e as mandiocas e as cebolas por cima.

P.S: Tempero Mineiro - cebola, alho, cebolinha verde, pimentões verdes, sal e salsa, batidos no liquidificador.


Pão de Queijo

200 ml de leite
200ml de água
100 ml de óleo
1 kg de polvilho azedo
1 colher de sobremesa de sal
6 ovos batidos ligeiramente, um a um.
800 gr de queijo meia cura ou parmesão ralado

Ferver o leite com a água, o óleo e o sal. Escaldar o polvilho e deixar esfriar um pouco. Juntar os ovos, um de cada vez, amassando bem. Misturar o queijo e amassar mais. Deixe gelar por 2 horas. Retire da geladeira e faça pequenas bolinhas e colocar em uma assadeira untada com óleo. Leve ao forno a 180 graus centígrados.

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Minas e a alimentação no final do século do ouro.

As notícias corriam o mundo sobre o ouro e os diamantes do Brasil, ainda mais coloridas pelas lendas e despertando a imaginação dos estrangeiros. Aqui era o novo Eldorado.Colhia-se ouro nos leitos dos rios e achavam-se diamantes, as vezes grandes, do tamanhod e ovos de pombo, nas enxurradas. A coroa portuguesa não permitia a entrada de estrangeiros, com medo de que descobrissem e lhe arrebatassem as riquezas ocultas no interior da colônia. Foi assim até a chegada do Principe Regente, quando se permitiu a entrada de viajantes ingleses, filhos da nação aliada de Portugal. Logo depois se permitiria a entrada de viajantes e cientistas de outras nações. A província das Geraes era a que mais atraía os estrangeiros. Nas primeiras décadas do século XIX a gricultura foi ocupando o espaço de importância econômica deixado pela mineração. O gado expandiu-se, principalmente no sul de Minas. Exporta-se gado para o Rio de Janeiro. Tem início a industria de laticínios. O leite produzido é de boa qualidade e com ele se fabrica o o famoso "queijo de minas". Ignora-se a fabricação de manteiga e não há a preparação para o fabrico da coalhada. Ao lado do gado cria-se uma grande quantidade de suínos, sobretudo nos distritos do oeste. A carne de porco e o toucinho são consumidos em grande proporção na alimentação das populações de Minas, Rio de Janeiro e São Paulo.

Agora as receitas :-)

Torresmo

2kg de toucinho de barriga
2 latas de óleo
Sal a gosto
1 cálice de cachaça

Corte o toucinho e cubos. Lavar, secar e temperar com sal e cachaça.
Coloque o óleo numa panela funda e de fuundo grosso, em quantidade suficiente para cobrir os torresmos. Colocar os torresmos e ligar o fogo, mantendo a chama baixa.
deixar cozinhar até branquear. Desligar e deixar esfriar.
Em outra panela aquecer bem o óleo e colocar os torresmos para pururucar.
Uma sugestão: ao retirar, polvilhar com farinha de mandioca por cima.

Canjiquinha com Costelinha

400gr de canjiquinha
1kg de costelinha
1/2kg de linguiça calabresa
1/2 xícara de óleo
2 tomates cortados em cubos
Couve
Cebola, alho, salsa e cebolinha a gosto
Caldo de carne
sal e pimenta malagueta a gosto

Deixar a canjiquinha de molho por aproximadamente 2 horas. Cozinhe em água abundante e reserve.
Cortar a costelinha em pedaços. Temperar com sal, alho e cebolas picados e a pimenta malagueta. Aquecer o óleo e fritar a costelinha. Quando estiver quase frita acrescentar a linguiça calabresa e mexer até que as duas fiquem douradas. Acrescentar os tomates picados em cubos, colocar a canjiquinha cozida e a água em que foi cozida. Se necessário, acrescentar um pouco de água quente. Prove o tempero e corrija, se necessário.
Picar a couve bem fina e colocar por cima. Decorar com salsinha e cebolinha picadas.

Bom apetite :-)

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Comida colonial

A partir de sexta feira, dia 13, começarei a falar da alimentação popular durante o período colonial no Brasil, mais especificamente em Minas Gerais.

Tive uns problemas pessoais e retomarei o Blog na sexta feira com novo tema.

Até lá :-)