segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Festas VII

Quinta Feira da Ascensão

A Quinta-feira da Ascensão é conhecida popularmente como Dia da Espiga. Ocorre 40 dias após a Páscoa, caindo geralmente numa quinta-feira de Maio. É neste período que as espigas, ainda verdes, já estão formadas e começa o pão a amadurecer, segundo reza a tradição popular.(Amaro:1998)
A tradição do ramo de espiga, antigamente formado com um passeio aos campos, reveste-se também de um significado simbólico. Um ramo que reúne três espigas (geralmente de trigo, ou de um outro cereal); um ramo de oliveira e quatro flores, sendo mais comuns a papoula e o malmequer. Estes ramos destinavam-se a ser guaddados em casa até o ano seguinte, como fim de garantir abundância nas arcas e esperança. Cada elemento responde pelos seus atributos: as flores, que simbolizam o dinheiro, a alegria e a amizade; a oliveira (fonte do azeite, através do seu fruto), garantia do tempero alimentar e da luz(antigo combustível de iluminação); o trigo, ou outro cereal, a fartura do pão. A este molho poderia atar-se um merendeiro do dia e pendurava-se o conjunto na cantareira ou numa parede. No ano seguinte, o ramo, jáseco, era queimado e o pão, já duro, que milagrosamente não ganhava bolor, dava-se a comer à criação, dado o seu valor protetor.

As receitas agora:-)

Palitos de Oeiras

800gr de açúcar
375gr de farinha de trigo
10 ovos inteiros
10gr de canela
1 casca raspada de limão
125gr de manteiga

Mistura-se tudo muito bem, batendo a massa durante 15 minutos. Depois de bem trabalhada deita-se em tabuleiros estreitos e compridos, bem untados de manteiga. A altura da massa em tabuleiros não deve ser maior do que um dedo. Leve ao forno e corta-se em fatias de um dedo de largura e leve novamente ao forno para torrar.

Cozido Saloio

250gr de feijão branco
1,5kg de lombo de porco (o tradicional é feito com cabeça de porco)
2 nabos pequenos
1 molho de grelos (talos de verduras)
500gr de abóbora aos pedaços
4 batatas aos pedaços
1 chouriço de sangue
1 farinheira (enchido tradicional português)

Limpe a carne de porco e ponha-a para cozinhar com o feijão branco (demolhado de véspera). Quando estiverem quase cozidos, junte os nabos, os grelos, a abóbora, as batatas, o chouriço e a farinheira.

P.S: A farinheira é uma espécie de enchido (embutido) criado pelos cristãos-novos portugueses , durante o período da Inquisição, para substituir e simular o consumo de carne de porco. A farinheira é feita com farinha, massa de pimentão, colorau, vinho e, ultimamente, banha de porco. É defumada e a tripa não é muito cheia.

P.S2: Receita adaptada de Rota gastronômica e enológica de Loures.

Bom Apetite :-) Até amanhã!

domingo, 8 de janeiro de 2012

Festas VI

Festa dos Merendeiros, em Santo Isidoro

No Domingo seguinte à celebração da Páscoa, o povoado de Santo Isidoro, no Concelho de Mafra, celebra a Festa dos Merendeiros, em honra a Santo Isidoro. Esta tradição festiva esta ligada a uma lenda, na qual o cenário histórico remonta ao início do século XVIII, por conta de uma terrível seca. As sementes, mirradas ou "gelhas", no dizer local eram impróprias para o período de semeadura. Mesmo assim, os camponeses semearam os pequenos grãos de trigo, sob promessa ao seu padroeiro de que se essas sementes germinassem e dessem uma boa colheita, fariam uma festa e ofereceriam a cada pessoa um merendeiro. A colheita foi boa e o povo, agradecido, cumpriu a sua promessa.

Vejamos o que diz Manuel Gandra sobre a criação da Festa:

Nos primeiros anos cada lavrador-mordomo cozia os próprios merendeiros (pãezinhos com cerca de 250g) que constituiam a antiga oferenda, transportando-os para a igreja num carro de bois engalanado, diz-se com chocalhos. Uma vez chegado à morada do santo, onde os merendeiros haviam de ser bentos, rodeava-a três vezes. O ponto alto da festa era, e ainda continua a ser, atingido mquando chega o momento dos merendeiros serem distribuídos pelos que acorrem ao local. O ofertório (...) em louvor da abundância e da saúde (....) a todos quantos se encontram no recinto do adro da igreja (consiste) de um pão que lhes é entregue pelos mordomos (hoje já são lavradores). O cereal cozido e bento, é constituído, assim, durante um ano, em profilactico contra as doenças (...) o pão bento será tanto mais benfazejo quanto menos bolor criar durante o ano a que respeita. (Gandra: 1998).

Esta festa revela a associação entre o sagrado e o pão (benzido), alimento simbólico por excelencia, logo pelo papel central nas dietas populares. O significado da promessa, garantia de abundância, projeta-se também, através do merendeiro, portador de poderes curativos. A Festa dos Merendeiros continua a atrair milhares de pessoas. A sua organização fica sob a responsabilidade de uma comissão escolhida anualmente e conta com os apoios da Câmara Municipal e da junta de Freguesia de Santo Isidoro.

Agora as receitas :-)

Bolo Finto (Mafra)

Toma-se 1kg de farinha, abrindo-se uma cova no centro, na qual se colocam 250gr de massa de pão. Mistura-se aos poucos 250ml de leite, 125gr de manteiga derretida e 2 gemas. Depois junte 400gr de açúcar, 1 colher de chá de erva doce moída, 1 colher de chá de canela, sal e, se necessário, água. É importante que a massa fique bem consistente, deixando-a descansar e crescer coberta com um pano. Tendo crescido, estende-se a massa e faça em forma de ferradura, unte com banha e leve ao forno(fogo alto) em tabuleiros polvilhados com farinha.

P.S: Receita adaptada de Manuel J. Gandra. Sabores, cheiros e comeres de Mafra. Tradição e modernidade. Ericeira: Mar de Letras, 1998.

Carne de Porco às Mercês-Richoa

Carne d eporco picada
Alho
Vinho branco
Sal
Colorau
Louro
Banha

Tempere a carne de véspera com alho picado, colorau, louro, sal e vinho branco. No dia seguinte frite a carne em banha numa frigideira. Sirva-a com batatas fritas, azeitonas e pão saloio.

P.S: Receita adaptada de Carta Gastronômica do Concelho de Sintra.

Bom Apetite! Por hoje é só :-)

sábado, 7 de janeiro de 2012

Festas V

Páscoa

O período de floração, ou de renovação, é representado no calendário religioso pela Páscoa. Originada de uma festa judaica - Pessah - comemorativa da fuga do povo hebreu do Egito, no qual estava sujeito à escravatura. Este êxodo marcou um momento seminal de um período de liberdade para o povo judeu e era comemorado com o consumo de pão ázimo e o sacrifício de um cordeiro. A transferência para o cristianismo provocou uma ruptura a aprtir da morte e ressurreição de Jesus Cristo, o símbolo da renovação. O Domingo de Páscoa é marcado no calendário católico, desde o Concílio de Nicéia - em 325, no primeiro Domingo que segue a primeira lua Cheia após o Equinócio da Primavera.
A ligação entre a Ressurreição e a regeneração da Natureza - vitória sobre a morte, de outra perspectiva, sobre o Inverno - teve expressão em celebrações rituais diretamente ligadas à terra e à floração. No campo alimentar, a Páscoa é marcada pelos folares, pão / bolo que serve de oferenda, sobretudo dos padrinhos aos afilhados solteiros (para propiciar a abundância e a fecundidade) ou entre amigos e vizinhos (votos de estima e prosperidade, estreitamento de laços familiares). O folar é um bolo / pão arredondado de massa seca, doce, e ligada de farinha de trigo, ovos, leite, azeite, banha, açúcar, fermento com canela ou ervas aromáticas, que se pode incluir um ou mais ovos cozidos (Oliveira:1994). O folar circular ou ovalado, guarnecido de um ou mais ovos, acompanhados de pequenos pedaços da massa de trigo, enrolados e colocados em grade, segundo Sebastião Pessanha representavam a configuração clássica dos folares de toda a área saloia do termo de Lisboa, (vendidos), pela Semana Santa, nas confeitarias e padarias da Capital.
O ovo (símbolo da ressurreição) , assume uma simbologia ligada à fecundidade e abundância. A amêndoa - a amendoeira é a primeira árvore a florir na Primavera - assume o símbolo da abundância e fecundidade, e tendeu a generalizar-se como o mais comum meio de "trocas e ofertas" pascais, marcada pela expressão "dar ou receber amêndoas".
Na região de Mafra, a gastronomia tradicional da Páscoa iclui a canja com hortelã e o chamado cozido branco, feito com carne de vaca, toucinho e lingüiça. Em Alcabideche, no Concelho de Sintra, o tradicional almoço do Domingo de Páscoa era estrelado com o borrego em ensopado ou assado no forno - o cordeiro pascal. (Amaro:1990).

Agora as receitas :-)

Folar

Para a massa:
250ml de leite morno
2 colheres (chá) de fermento biológico seco
1 ovo
110g de açúcar
570g de farinha T65
1 colher (café) de erva-doce em pó
1 colher (café) de canela em pó
100g de manteiga ou margarina amolecida

Para decorar:
ovos cozidos em casca de cebola
1 ovo (pincelar)

Cozinhar os ovos em água com cascas castanhas e secas de cebola e sal. Escorrer e reservar.
Em uma gamela, juntar os ingredientes pela ordem mencionada. A massa no início parece pegajosa, mas com o amassar irá ficar macia, elástica e desprende-se.
Retirar a massa, que estará macia, e separar desta um pedaço equivalente a uma tangerina, para a decoração.
Dividir a massa, para dois folares, ou tomá-la toda, para um só folar, e na pedra enfarinhada moldar uma bola com a massa do folar, enrolando os lados para baixo e para dentro, tornando a superfície lisa.
Enfarinhar um tabuleiro forrado com papel vegetal ou tapete de silicone e moldar o folar. Com a mão fazer no centro as covas para os ovos. Colocar os ovos fazendo pressão para que se enterrem.
Dividir a massa, que foi separada para decoração, em número igual ao dos ovos usados e fazer rolinhos em cada porção. Dividir cada rolo a meio e fazer uma cruz em cima de cada ovo. Com o dedo empurrar as extremidades dos rolos, como se estivéssemos a fazer um furo na massa.
Pincelar com o ovo batido e deixar descansar 15min. enquanto o forno aquece.
Levar ao forno pré-aquecido, a 180ºC durante 30-35min.
Retirar e deixar esfriar numa rede.


Borrego Ensopado

1,5 kg de borrego (selas e costeletas)
2 cebolas grandes
6 dentes de alho
colorau o quanto baste
1 ramo de salsa
2 colheres de sopa de banha de porco
6 fatias finas de toucinho
1 fio de azeite
5 cravos
1 folha de louro
1 taça grande de vinho branco
Sal o quanto baste
Batatas
Vinagre a gosto
Pão duro

Em uma panela frite as fatias de toucinho na banha de porco. Logo em seguida coloque o borrego temperado, as cebolas cortadas em rodelas finas, o alho também cortado em rodelas finas. Junte o sal, o ramo de salsa, o colorau, o azeite, o vinho branco e um pouco de água. deixed refogando. Corte as batatas em rodelas. Quando o borrego estiver quase cozido, junte as batatas e os cravos. Um pouco antes de retirar do fogo acrescente o vinagre. Corte em fatias o pão duro, disponha-os em uma saladeira e coloque por cima o caldo do ensopado. Sirva o ensopado bem quente acompanhado pelas batatas.

Por hoje é só :-) Bom Apetite! \0/




sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Festas IV

Hoje, dando continuidade aos alimentos e as festividades, o tema será o Carnaval

Carnaval.

No hemisfério norte o início da Primavera, de acordo com o calendário lunar, é marcada pelo Entrudo, no caso o Carnaval. Também, o período coincide com o tempo da semeadura, iniciando o ano agrário. A permissão transgressora, a inversão dos papéis sociais, a abertura para o obsceno, o uso de máscaras; tudo isto caracteriza esta festa, na qual a pulsão festiva, ligada ao final do inverno e a renovação da vida e o período da fertilidade, corresponde diretamente nos excessos alimentares, na transgressão, no pecado, aqui representado pela gula. A manifestação de abundância, como propiciadora da própria abundância, marcando as práticas alimentares neste período cíclico. O consumo e oferta de filhoses (espécie de bolinho natalino tradicional) era o costume mais marcante, em termos alimentares; um hábito que acabaria por se transferir ao Natal.
Na Quarta Feira de Cinzas celebrava-se o enterro do Carnaval. Na localidade de Janes da Malveira, havia a representação de um enterro, que na tradição antiga figurava um homem, atualmente substituído por um boneco de palha, transportado em uma padiola e que circulava por toda aldeia até ser queimado, depois de serem leiloados todos os doces, bolos, frutos ou enchidos que o recheavam. Simbolizava, segundo alguns autores, a destruição do Inverno e das forças negativas; era o bode expiatório da aldeia (AMARO:1990).
Os excessos carnavalescos contrapõe-se à contrição alimentar da Quaresma. A observância ao jejum, cobrado e mantido pela Igreja, obrigava ao não consumo de carne até a Páscoa. O final deste hiato alimentar era, por sua vez, marcado pelo Enterro do Bacalhau, prática festiva generalizada por todo o Portugal e que chegou aser muito importante na região saloia. O bacalhau, alimento de cunho popular desde o século XVI, era o Coringa diante da impossibilidade do consumo da carne e do preço alto do peixe durante a Quaresma.

Para encerrar o Post. As receitas:

Filhoses Portugueses

1 kg de farinha,
100gr de manteiga
2 colheres de sopa de azeite
2 colheres de sopa de aguardente
1 laranja
6 ovos
25 gr de fermento para pão
2 colheres de sopa de açúcar
Azeite abundante para fritar
Açúcar e canela para polvilhar.

Dissolva o fermento em um pouco de sal e água morna. Peneire a farinha em um alguidar ou gamela, abrindo uma cova no meio e colocando o azeite aquecido com a manteiga. Esfregam-se todos os ingredientes entre as mãos ( movimentos de "vaivém"). Quando tudo estiver com um aspecto esfarelado, acrescente o fermento e os ovos, previamente passados por água quente com casca, juntando 2 ovos de cada vez. Amasse tudo muito bem juntando o suco de laranja aquecido com a água ardente; amasse pro 30 minutos à mão. Polvilhe a massa com farinha, envolva o alguidar em um cobertor e deixe descansar por 3 a 4 horas.
Leve o azeite ao fogo e deixe-o bem quente. Molha-se a spontas dos dedos no azeite e tira-se pedaços da massa levedada, de forma que as filhoses fiquem finas no centro e grossa nas bordas. Coloque para fritar. depois de fritas no azeite quente polvilhe com açúcar e canela.


Bolo de Festa (Murgeira-Mafra)

1 kg de farinha
500 gr de açúcar
3ovos
100gr de manteiga
canela
Uma pitada de sal
500 ml de leite
50gr de fermento para pão
raspas de limão

Junta-se a farinha com o açúcar, o fermento e o leite quente, fervido com um pau de canela e a casca de limão. Amassa-se como se fosse pão, juntando a manteiga e por fim os ovos. O leite deve deitar-se aos poucos, pois pode ser demais.

P.S: receita adaptada de Ana Maria Amaro. A Mulher Saloia - A Padeira e o Pão. Etnografia da Região Saloia (A Diversidade do Quotidiano). Sintra: Instituto de Sintra, 1999.

Ana maria Amaro. Do Natal ao São João em Janes da Malveira. Arquivo de Cascais - Boletim Cultural do Município, Câmara Municipal de Cascais, n.9, 1990, pp.237-261.

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Festas III

Dando prosseguimento às festas de fim de ano na região saloia, hoje falarei sobre a festividade em homenagem a um santo de determinado povoado saloio.

Festa de Santo Estevão da Galés

Um dia após o Natal, no dia 26 de dezembro, há a consagração de Santo Estevão em povoado que leva o seu nome - Santo estevão da Galés, no Concelho de Mafra. Diz a história local o nome do povoado deveu-se as "aparições" de Santo estevão nos vales conhecidos como "Galés" e "Cruzinhas". Segundo a lenda, o nome Galés refere-se ao fato de Santo estevão ser galileu; o nome Cruzinhas devido a outras "aparições" que se deu numa pequena toca sob uma oliveira, que o povo marcou com uma cruz. A população local desejou erigir uma igreja num ponto alto e o aparecimento do Santo nos dois vales fez com que os camponeses criassem um hábito de jogar pedras. Estas, ao cair em seu redor, transformavam-se em pãezinhos. Os pãezinhos de São Bento, ázimos, distribuídos na missa, tornam-se simbólicos, cabendo aos fiéis guardarem em casa, em local que deve ser esquecido, para que tenham sorte. Os pãezinhos tem a validade de um ano, sem formar bolor e nem se alterar, desfazendo-se em pó. A simbologia do apedrejamento da lenda tem a ver com o castigo a que foi imposto Santo Estevão, de acordo com a lei judaica, neste caso aplicada sobre a acusação de interpretação blasfêmica das Escrituras. Os pães evocam a tarefa a que foi submetida a antiga comunidade cristã, de distribuí-los entre as viúvas.
Correlatos ao Pão Bento de Santo Estevão, foram as brindeirinhas (ou merendeirinhas) de Santa Quitéria (protege da raiva) - já não mais comuns - feitas de farinha de trigo e do tamanho de um bago de uva. Comiam-se e davam-se aos cães, gatos e porcos, contra a raiva.
Segundo Gabriel Pereira, no livro Pelos suburbios e vizinhanças de Lisboa, em 28 de agosto de 1898, Bolinhos de Santa Quitéria, muito bons para evitar a hidrofobia em pessoas, cães e vacas. São uns pequenos cubos de massa de trigo, passada no forno. Depois vieram homens vestidos de opas pedir esmola para a Irmandade de Santa Quitéria, do Senhor Roubado, perto de Odivelas.
As Janeiras e Reizadas foram festas que animaram a região saloia e perderiam a sua expressividade, em favor dos festejos da passagem de ano, para serem atualmente recuperadas, culturalmente, o que acontece um pouco por toda parte. Grupos janeireiros, que cantavam de rua a rua e de porta a porta, recebiam bolos de festa, frutos secos ou outras iguarias.

P.S: Cf. Gabriel Pereira. Pelos Subúrbios e visinhanças de Lisboa. Lisboa: Livraria Clássica Editora, 1910.

Para encerrar o Post, duas receitas:

Raivas ( Convento de Odivelas)

Em um recipiente amasse com as mãos, como se fosse massa de pão, 500gr de açúcar, oito gemas e 250gr de manteiga. Assim que tudo estiver bem amassado até ficar uma bola que solte das mãos, faça bolos de diferentes formas e tamanhos, que são recortados com as costas de uma faca, e se dispõem em tabuleiro e leva-se ao forno.

P.S: Receita adaptada de Emanuel Ribeiro. O doce nunca amargou ... Doçaria portuguesa. História. Decoração. Receituário. Sintra: Colares Editora, 1997.

Pão-de-ló saloio ou dos casamentos

12 ovos
250gr de açúcar
100gr a 125gr de farinha

Bata os ovos com açúcar durante 1 hora, com batedor manual, ou 20 minutos na batedeira. Com o forno aberto amorna-se a farinha e junta-se depois em chuva à massa anterior. A quantidade de farinha (100 a 125gr), depende do tamanho dos ovos.
Deita-se a massa em formas pequenas untadas e leve para assar em forno médio.

P.S: Este mini pão-de-ló faz parte do cesto de convite de casamento.

P.S2: Receita adaptada de Maria de Lourdes Modesto. Cozinha tradicional portuguesa. 9a ed. Lisboa: Verbo, 1990.


Informe

Mais tarde darei continuidade aos Posts sobre Festas. Ontem não pude escrever. Hoje, mais tarde, retomarei as Festividades e seus alimentos na Região Saloia.

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Festas II

Retomando o Blog. Darei continuidade, ainda aproveitando o ambiente de festividades de passagem de ano, sobre o Natal na vida da comunidade Saloia.

Natal.

A comemoração do Natal na comunidade Saloia segue, fundamentalmente, as práticas comuns de Portugal. No entanto, existem algumas particularidades no ambito alimentar. Na zona de Cascais, conforme destacou Ana Maria Amaro, na véspera do Natal cozia-se o pão e faziam-se merendeiros recheados de torresmos para os irmãozinhos que não podiam trabalhar e os famosos bolos tradicionais, verdadeiras fogaças, em forma de ferradura ou de falcada lunar, aromatizadas com chá de limão e canela e cozidos no lar quente do forno sobre folhas verdes de limoeiro. Os merendeiros no Brasil podemos compará-los aos famosos joelhos, pelo menos no que diz respeito à massa, sendo ainda denominados de outras formas como: italiano, pão pizza; enfim, havendo também uma variação nos recheios utilizados - Minas Gerais, existe a modalidade de correlatos dos 'Merendeiros', com recheio de linguiça - o que seria um aperfeiçoamento do famoso pão linguiça - espécie de sanduíche, muito consumido à beira das estradas. Em Portugal, os Merendeiros, são pães pequenos feitos a partir de restos de massa do pão e assados ao mesmo tempo no forno, mas não sendo tradicionais nos festejos natalinos. Em relação aos bolos de Natal da região Saloia, em especial na zona de Malveira da Serra e Janes da Malveira, que são assados sobre folhas verdes de limoeiro, diferem-se dos merendeiros porque levam na massa açúcar, ovos, manteiga e aromatizados com erva doce ou raspas de limão e canela em pau.
Os bolos em formato de ferradura estão intimamente ligados à tradição saloia, comum nos arredores de Torres Vedras, em que os bolos com esta forma correspondiam aos conhecidos "bolos de cargo" ou "bolos de noivo". Nesta mesma região realizava-se a cerimônia de oferendas do Natal, uma vez que os bolos em forma de ferradura eram leiloados no dia 25 de dezembro, cuja arrecadação da venda era destinada à festa do orago da igreja, em junho, ou destinado aos pobres da região. Os habitantes da localidade faziam a doação dos ingredientes para a preparação dos bolos.
Enfim, segundo a compreensão de antropólogos, os bolos de Natal em forma de ferradura ou meia lua - representados aos pés de Nossa Senhora da Conceição - assados sobre as folhas verdes de limoeiro e apreciados em determinadas festividades, possivelmente sejam uma referência aos cultos de vegetação e fertilidade da terra. Tal compreensão antropológica deve-se à observação aos cortes das bordas dos bolos de Natal, em especial de Malveira da Serra e Janes da Malveira, nos quais identificam-se as auréolas solares que permitem relacionar sua preparação e consumo com uma antiga tradição de culto ao Sol.

P.S: Conferir. Ana Maria Amaro. Do Natal ao São João em Janes da Malveira, Arquivo de Cascais - Boletin Cultural do Município, Câmara Municipal de Cascais, n. 9, 1990.

P.S 2: Conferir. Ana Maria Amaro. A Mulher Saloia - A Padeira e o Pão. In Etnografia da Região Saloia (A Diversidade do Quotidiano). Sintra: Instituto de Sintra, 1999.

Agora, para encerrar esse longo post - As receitas:

Bolos de Natal (Malveira da Serra e Janes da Malveira)

3 kg de farinha
2,5 kg de açúcar
6 ovos
um pouco de fermento do pão
250gr de manteiga
Raspas de limão
1 pau de canela

Em vez de utilizar leite, use "chá de limão" (mais ou menos 1/2 litro) no se ferve a casca de limão e um pau de canela. Mistura-se tudo e pega-se a massa aos bocados que se enrolam nas palmas das mãos enfarinhadas, espalmam-se e dobram-se ao meio no sentido do comprimento para formarem-se uma crista longitudinal. Dá-se-lhes a forma de ferradura e recortam-se as bordas superiores das cristas com tesoura ou com uma faca, dando-lhes golpes oblíquos e espaçados de cerca de 0,5 cm. Assentam-se, pela face interior, sobre folhas de laranjeira ou de preferência limoeiro, que se colocam no tabuleiro forrado com papel manteiga e leve-os ao forno para assarem. O ideal seria em forno à lenha, colocando as folhas d elimoeira sobre a pá. que se leva ao forno.

Bolos de Casamento.

500gr de farinha de trigo
50gr de fermento de pão
400gr de mel ou açúcar
200 ml de azeite
Sal.

Num alguidar, amassar 500gr de farinha de trigo com 200 ml de azeite muito quente (mas, sem que chegue a ferver) até formar uma massa bem ligada e homogênea. Junte 50 gr de fermento para pão, uma pitada de sal e 400gr de mel ou açúcar (ou 200gr de mel e outro tanto de açúcar) e sova demoradamente como pão.
Envolva o alguidar com um pano de algodão e em seguida num cobertor de lã e manter em descanso a massa por 12 horas. Faça os bolinhos e asse.

P.S: Receita adaptada de As Nossas Boas Ementas (Gastronomia Sadia do Concelho de Loures). Câmara Municipal de Loures, 1994.