quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Festas III

Dando prosseguimento às festas de fim de ano na região saloia, hoje falarei sobre a festividade em homenagem a um santo de determinado povoado saloio.

Festa de Santo Estevão da Galés

Um dia após o Natal, no dia 26 de dezembro, há a consagração de Santo Estevão em povoado que leva o seu nome - Santo estevão da Galés, no Concelho de Mafra. Diz a história local o nome do povoado deveu-se as "aparições" de Santo estevão nos vales conhecidos como "Galés" e "Cruzinhas". Segundo a lenda, o nome Galés refere-se ao fato de Santo estevão ser galileu; o nome Cruzinhas devido a outras "aparições" que se deu numa pequena toca sob uma oliveira, que o povo marcou com uma cruz. A população local desejou erigir uma igreja num ponto alto e o aparecimento do Santo nos dois vales fez com que os camponeses criassem um hábito de jogar pedras. Estas, ao cair em seu redor, transformavam-se em pãezinhos. Os pãezinhos de São Bento, ázimos, distribuídos na missa, tornam-se simbólicos, cabendo aos fiéis guardarem em casa, em local que deve ser esquecido, para que tenham sorte. Os pãezinhos tem a validade de um ano, sem formar bolor e nem se alterar, desfazendo-se em pó. A simbologia do apedrejamento da lenda tem a ver com o castigo a que foi imposto Santo Estevão, de acordo com a lei judaica, neste caso aplicada sobre a acusação de interpretação blasfêmica das Escrituras. Os pães evocam a tarefa a que foi submetida a antiga comunidade cristã, de distribuí-los entre as viúvas.
Correlatos ao Pão Bento de Santo Estevão, foram as brindeirinhas (ou merendeirinhas) de Santa Quitéria (protege da raiva) - já não mais comuns - feitas de farinha de trigo e do tamanho de um bago de uva. Comiam-se e davam-se aos cães, gatos e porcos, contra a raiva.
Segundo Gabriel Pereira, no livro Pelos suburbios e vizinhanças de Lisboa, em 28 de agosto de 1898, Bolinhos de Santa Quitéria, muito bons para evitar a hidrofobia em pessoas, cães e vacas. São uns pequenos cubos de massa de trigo, passada no forno. Depois vieram homens vestidos de opas pedir esmola para a Irmandade de Santa Quitéria, do Senhor Roubado, perto de Odivelas.
As Janeiras e Reizadas foram festas que animaram a região saloia e perderiam a sua expressividade, em favor dos festejos da passagem de ano, para serem atualmente recuperadas, culturalmente, o que acontece um pouco por toda parte. Grupos janeireiros, que cantavam de rua a rua e de porta a porta, recebiam bolos de festa, frutos secos ou outras iguarias.

P.S: Cf. Gabriel Pereira. Pelos Subúrbios e visinhanças de Lisboa. Lisboa: Livraria Clássica Editora, 1910.

Para encerrar o Post, duas receitas:

Raivas ( Convento de Odivelas)

Em um recipiente amasse com as mãos, como se fosse massa de pão, 500gr de açúcar, oito gemas e 250gr de manteiga. Assim que tudo estiver bem amassado até ficar uma bola que solte das mãos, faça bolos de diferentes formas e tamanhos, que são recortados com as costas de uma faca, e se dispõem em tabuleiro e leva-se ao forno.

P.S: Receita adaptada de Emanuel Ribeiro. O doce nunca amargou ... Doçaria portuguesa. História. Decoração. Receituário. Sintra: Colares Editora, 1997.

Pão-de-ló saloio ou dos casamentos

12 ovos
250gr de açúcar
100gr a 125gr de farinha

Bata os ovos com açúcar durante 1 hora, com batedor manual, ou 20 minutos na batedeira. Com o forno aberto amorna-se a farinha e junta-se depois em chuva à massa anterior. A quantidade de farinha (100 a 125gr), depende do tamanho dos ovos.
Deita-se a massa em formas pequenas untadas e leve para assar em forno médio.

P.S: Este mini pão-de-ló faz parte do cesto de convite de casamento.

P.S2: Receita adaptada de Maria de Lourdes Modesto. Cozinha tradicional portuguesa. 9a ed. Lisboa: Verbo, 1990.


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