quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Comida Saloia

Dando inicio à alimentação da classe baixa, como muitos se referiam, começo discutindo a definição de "Saloios". A etimologia da palavra gerou uma série de discussões entre os portugueses. Este termo é fruto da relação geográfica e cultural, resultante da convivência e dos olhares dos citadinos lisboetas sobre o camponeses dos arredores da capital portuguesa. Próximos geograficamente e distantes culturalmente permitiu a construção de um discurso, no qual o estereótipo social teve um correspondente no sentido do pertencimento, produzindo a idéia dos saloios e o seu território; tal qual podemos observar, no caso do pensamento social brasileiro, a idéia do caipira tão bem discutida no clássico da sociologia de Antonio Candido - Parceiros do Rio Bonito.
No entanto, a primeira referência ao termo "saloio", segundo José Leite de Vasconcelos, deu-se no poema em homenagem a Sá de Miranda (1481-1558), escrito por Manuel de Azevedo, em que lhe chamava de "saloio" , por viver isolado no campo. Mas, para Jeronimo Cardoso, humanista lusitano que escrveu o primeiro dicionário português de língua latina, editado no século XVI, o vocábulo "saloia" seria a aldeã do ex territorio Ulissiponensis. A palavra "saloio" também poderia ser compreendida como um termo genérico destinado ao camponês rústico. A forte presença dos "saloios" junto aos lisboetas, foi descrita em documento de 1625: Logo as hortas de Alvalade / cuja hortaliça se rega / com tanta abundância de água / que noras lançam nas presas. / Donde há mais que na cidade / se gasta que é cousaimensa, / trazem rústicas saloias / a poder das regateiras.
Os saloios também foram identificadpos com filiação árabe, tendo como base o termo arábico "çaloio", apresentado pela historiografia seiscentista. Portanto, os traços culturais que tal herança poderia ter influenciado essa população dos arrabaldes nunca foram reconhecidos, em especial nos hábitos alimentares.

Mas, em homenagem aos Anjos dos Arralbes que alimentaram Lisboa por longo tempo, apresento a primeira receita, do modo de vida simples e de sobrevivência dura destes homens. Em tempos de festas, por que não um Bacalhau?

Bacalhau à Saloia (para 4 pessoas)

4 cebolas médias
4 postas de bacalhau, de preferência a parte do meio, demolhado
7 batatas médias cortadas em quadradinhos e fritas
3 dentes de alho
Salsa a gosto
1 colher de sopa de vinagre
Azeite.

Cortam-se as cebolas em rodelas e colocam-se numa frigideira com um pouco de azeite e alho, deixam-se cozer lentamente. Frite o bacalhau em azeite, juntando-o posteriormente à cebola, juntamente com as batatas, salsa e vinagre na frigideira. Leve ao fogo brando por 10 minutos para apurar. Pode ser servido com salada de tomates com orégano.

P.S: Receita adaptada de Rota Gastronómica e Enológica. Loures: Camara Municipal de Loures, s/d.

Sobremesa: Arroz Doce Saloio

1/2 kg de arroz
750ml de leite
12 gemas
400g de açucar casca de um limão
sal
canela em pó

Leva-se ao fogo 1,5 litro de água com um pouco de sal e a casca de limão e deixe levantar fervura. Adiciona-se o arroz lavado e escorrido e deixa-se cozinhar até a água secar. Acrescente-se aos poucos o leite a ferver. Adiciona-se o açúcar. Retire do fogo deixe esfriar um pouco e acrescente as gemas. Leva-se novamente ao fogo brando só para cozinhar um pouco as gemas. Sirva em travessa e decore com canela em pó.

P.S: Receita adaptada de Maria de Lurdes Modesto. Cozinha Tradicional Portuguesa. Textos introdutórios de Antonio Manuel de Couto Viana. 9a edião. Lisboa: Verbo, 1990.

Bom Apetite!

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