quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Hábitos Alimentares IV

As Hortas

Desde de fins do século XIX que a maior parte da população dos arredores de Lisboa passou a sobreviver da horticultura, que funcionava também como complementar à alimentação local. O fato é que quanto mais afastada da cidade, mais aumentava o numero de hortas que alimentavam diariamente a população local.
A horticultura sempre teve como característica o regime intensivo de exploração da terra. O adubo natural foi, aos poucos, substituído pelos adubos químicos. Em consonância com o aumento das necessidades do mercado e possiblidade de aumento da renda, as hortas tornaram-se um pilar importante de auto-aprovisionamento, pelo qual o regime intensivo de exploração das terras sempre buscou uma expansão e aumento da colheita, além de uma diversificação de gêneros alimentícios.
Na década de 40 do século passado, no contexto da região saloia, a área de Loures dominava a produção e abastecimento de hortigranjeiros para Lisboa, com mais de 24 mil toneladas anuais, abocanhando 91,7% do total fornecido pela região saloia. Havia em Lisboa alguns núcleos produtores, principalmente em torno do Parque Eduardo VII que chegou a contribuir, em 1948, com 1,1 tonelada de hortaliças para a população lisboeta. Haviam informações de que Lisboa era abastecida por, mais ou menos, 25 núcleos hortícolas dentro da cidade., destacando-se: Ajuda, Algés, Alto da Pina, Areeiro, Beato, Campo Grande, Campolide, Carnide, Chelas, Lumiar, Marvila, Olivais, Palhavã, Penha de França, Sete Rios e Telheiras, que eram responsáveis por 8 mil toneladas de alimentos. Porém, estas áreas produtoras dentro da capital já começavam a ficar ameaçadas, uma vez que o processo de urbanização começava a avançar, cabendo a responsabilidade do abastecimento dentro da capital às quintas que surgiram no Areeiro, Portela e Aeroporto.
Aos poucos a zona de Loures foi retomando a importância na região saloia como cnetro abastecedor da capital. Segundo dados obtidos por Maria de Lourdes Santos Pereira, na década de 40 do século passado, os principais gêneros produzidos na região saloia e fornecidas em procentagem à capital portuguesa eram: abóboras (58,6%), couve (71,8%), grelos (74%), nabiças (65,5%), nabos (73,4%), pimentos (67,7%), agriões (99,6%), alface (57,9%), cenouras (84,8%) e favas (27,9%).
Por essa rápida infromações podemos perceber o quanto a população lisboeta diversificava sua alimentação, não somente por habitos saudáveis, mas porque grande parte da classe trabalhadora consumia produtos com preços acessíveis ao seu padrão de vida, tendo como compelmentação proteica a sardinha, peixe barato e consumido em grande quantidade pela população mais pobre.

P.S: Os dados podem ser conferidos em Maria de Lourdes Santos Pereira. Abastecimentos de produtos hortícolas a Lisboa. Lisboa: Junta Nacional de Frutas, 1949.

Agora, para encerrar, duas receitas com base na alimentação da população comum:

Sardinhas saloias

Sardinhas
Chouriço
Batatas
Salada
Cebola
Salsa
Alho
Limão ou vinagre
Pimenta
Sal
Azeite
Pão ralado

Limpe as sardinhas, retire as cabeças e lave-as; deixei-as durante 2 a 3 horas temperadas com vinagre ou suco de limão (1/2 litro por cada dúzia de sardinhas), pimenta e sal.
Unte generosamente com azeite o fundo de um tabuleiro de forno e forre-o com cebolas cortadas em rodelas finas; coloque por cima das cebolas as sardinhas envolvidas com a seguinte mistura: dentes de alho, cebola, chouriço de carne, salsa e pão ralado.
Leve ao forno bem quente, ficarão prontas em 20 minutos; mas, é necessário regar as sardinhas, de vez em quando, com o molho que se vai juntando no tabuleiro.
Sirva com batatas cozidas ou purê, e uma salada.

P.S: receita adaptada de As nossas boas ementas (gastronomia sadia do Concelho de Loures). Câmara Municipal de Loures, 1994.

Raivas (Convento de Odivelas)

100gr de açúcar
75gr de manteiga
3 ovos
250gr de farinha
1 colher de café de canela

Bate-se a manteiga com o açúcar até ficar em creme. Um a um, juntem-se, batendo, os ovos. Finalmente, acrescente a farinha e a canela, e amasse.
Molde a massa em rolinhos muito finos e deixe-os cair sobre um tabuleiro untado, formando desenhos irregulares.
Levam-se as raivas a assar em forno brando.

P.S: receita adaptada de maria Isabel de Vasconcelos Cabral. O Livro de receitas da última Freira de Odivelas. Lisboa: Verbo, 1999.

Por hoje é só! Até a próxima! :-)

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