sábado, 21 de janeiro de 2012

Um viajante nos arredores do Rio de Janeiro:hábitos à mesa e prática alimentar.

John Luccok, comerciante inglês e ilustrado, esteve no Brasil por dez anos, entre 1808 a 1818, e deixou um diário muito interessante sobre a cultura material sobre a Colônia que havia se transformado no centro do Reino. Suas notas acerca dos usos e costumes da população no Brasil são abstante curiosas. Uma dessas curiosidades que nos interessa é a sua descrição sobre o jantar de uma família abastada nos arredores do Rio de Janeiro, que não modificava muito quando se tratava também de uma família abastada do interior de Minas.

"A refeição principal consta de jantar ao meio-dia, por ocasião da qual o chefe da casa, sua espôsa e filhos às vêzes que reunem ao redor da mesa; é mais comum que a tomem no chão, caso em que a esteira do dono da casa é sagrada, ninguém se aproximando dela senão os favoritos reconhecidos. As vitualhas constam de sopa, em que há grande abundância de legumes, carne sêca e feijão de várias qualidades. Em lugar de pão, usam de farinha de mandioca; esta, quando úmida, é servida em cabaças ou terrinas; quando sêca, em cestas, sendo comida em pequenos pratos de Lisboa. Sòmente os homens usam faca; mulheres e crianças servem-se dos dedos. As escravas comem ao memso tempo, em pontos diversos da sala, sendo que por vêzes suas senhoras lhes dão um bocado com a spróprias mãos. Quando há sobremesa, consta ela de laranjas, banas e outras poucas frutas".

Segundo Luccok, alguns jantares de cerimônia compunham os seus objetos de mesa oriundos da Inglaterra, no caso a louça e a cristaleira, sendo comuns as cabaças e os côcos, no lugar das terrinas e das xícaras. Os garfos e as colheres eram de prata, porém, curiosamente, cada convidado comparecia com a sua faca; geralmente, comprida, pontiaguda e com cabo de prata lavrada. Antes de o jantar servido, os convidados ficavam à vontade, ou em pé, conversando na sala, ou recostados em cadeiras, mesas, camas ou esteiras no soalho. Tiravam o casaco, os sapatos e outros acessórios que o incomodassem. Para o viajante europeu, a disposição da mesa parecia estranha - as damas ficavam todas juntas de um só lado e do outro os cavalheiros, ou, em outro caso, a dona da casa sentava-se ao lado do marido, tendo do outro lado outra senhora, também com o seu da outra banda, de modo que nenhuma dama se colocava ao lado de outro homem que não fosse o próprio conjuge.
O chefe da casa, sentado à cabeceira, recebia os pratos, um a um, e servia os presentes. A altura demasiada da mesa fazia com que o prato chegasse ao nível do queixo do comensal, obrigando-o afincar os cotovelos na mesa e a levar sem jeito a comida à boca em grande sproporções. Os pratos não eram trocados e os dedos eram usados com a mesma freqüência que o garfo. A etiqueta recomendava que não se empregassem mais de três dedos em juntar o "bocado". Comer algo do prato do vizinho era uma prova de amizade, sendo comum os dedos de um e de outro mergulhados um só tempo no mesmo prato. Tomava-se vinho, sem refinamentos e modos. Terminado o repasto, cada um limpava na toalha da mesa a faca de ponta de que se servira, enfiando-a depois no cano da bota ou na baínha do cinturão. E no final de tudo, todos se serviam de uma xícara de café, uma só, como sedativo. Cabe ressaltar que a faca era um acessório indispensável a todo homem por conta de suas diferentes utilidades. Sua ponta aguçada servia para cortar a carne à mesa, palitar os dentes, alisar a palha de milho e picar o fumo de rôlo para o cigarro, tirar bicho-de-pé, comuns naqueles tempos e, finalmente, como instrumento de defesa e ataque.
Por fim Luccok também escreveu no diário que nas fazendas dos arredores do Rio de Janeiro o cardápio era diversificado em relação à vida urbana. Predominavam o charque do Rio Grande do Sul, a farinha de mandioca, o feijão e os legumes. Galinha, ovos e sopa eram luxos. Como bebia amais comum era a água. As vezes aparecia a aguardente. O vinho era só para os fazendeiros mais ricos.

Agora as receitas :D

Croquetes de Aipim

1 kg de aipim
2 colheres (sopa) de óleo
1 cebola média picada
1 dente de alho amassado
Sal e pimenta do reino a gosto
2 colheres (sopa) de cheiro verde picado
1 ovo
2 claras ligeiramente batidas
2 xícara de farinha de rosca.

Lave bem o aipim em água corrente, corte em pedaços, desquasque, coloque em uma panela, cubra com água e cozinhe em fogo médio até ficar macio. Tire do fogo, escorra, remova a fibra central e passe no espremedor ou amasse bem com um garfo.
Coloque óleo em uma panela, junte cebola, alho, deixe dourar levemente, acrescente o aipim, tempere com sal e pimenta a gosto, cozinhe, mexendo sempre, até a mistura começar a se soltar do fundo da panela, tire do fogo, junte cheiro verde, ovo, misture bem e deixe esfriar. Forme os croquetinhos, passe nas claras batidas e na farinha de rosca, envolvendo-os bem.
Em uma panela, coloque óleo em quantidade suficiente para mergulhar os croquetes, leve ao fogo médio, deixe aquecer e frite os croquetes aos poucos, até ficarem dourados. Tire do fogo, deixe escorrer em papel absorvente.


Rabada Carioca

4 rabadas
água fervente
2 colheres de sopa de sal (ou sal grosso)
pimenta do reino a gosto
1 cabeça grande de alho
2 cebolas grandes
5 molhos de agrião

Limpar a rabada retirando o excesso de gordura e a pele que a envolve. Temperá-la com alho, pimenta do reino e sal.
Levá-la ao fogo pingando água fervente e mexendo sempre, até que solte o caldo. Quando estiver dourada, colocar água bastante e deixar que cozinhe até que fique bem cozida.
Separar o caldo da rabada e levá-lo ao freezer. Quando a gordura talhar, retire-a com um colher e jogue fora. Descongele o caldo, acrescente a rabada, adiciona-se a cebola picadinha refogada, cheiro verde e o agrião (reservar um pouco de agrião para misturar à rabada na hora de servir.
Sevir com arroz, purê de batatas ou polenta.


Mãe Benta

12 gemas
2 claras
2 3/4 xícaras de chá de açúcar
2 3/4 xícaras de chá de manteiga
3 1/2 xícaras de chá de farinha de arroz
1 pitada de erva-doce
1 pitada de canela em pó
1 xícara de chá de leite de coco

Para untar:
Manteiga

Preaqueça o forno médio (180ºC). Bata bem as gemas, as claras e o açúcar até obter uma mistura fofa e cremosa. Junte a manteiga e bata até ficar homogêneo. Acrescente a farinha de arroz misturada com a erva-doce e a canela aos poucos, alternando com o leite de coco, e continue batendo até a massa ficar lisa e leve. Distribua em forminhas de empada, untadas, e asse por cerca de 50 minutos.


Empadinhas de Colombo

Recheio:
500 g de camarão miúdo, descascado e limpo
2 xícaras de chá de água fria
2 colheres de sopa de óleo
1 cebola média picada
1 dente de alho picado
2 colheres de massa de tomate
Pimenta-do-reino a gosto
2/3 de xícara de chá de farinha de trigo

Massa:
600 g de farinha de trigo
300 g de manteiga ou margarina
4 ovos
1 colher de chá de sal

Recheio: Na panela coloque o camarão e a água, e leve ao fogo. Deixe ferver por 1 minuto. Reserve. Em outra panela, faça um refogado com óleo, cebola, alho, massa de tomate e pimenta-do-reino. Acrescente os camarões com a água e deixe ferver, mexendo sempre. Acrescente a farinha de trigo dissolvida em um pouco de água e deixe engrossar. Deixe esfriar.
Massa: Numa vasilha coloque a farinha de trigo e a manteiga em pedacinhos. Com as pontas dos dedos vá misturando até obter uma farofa. Junte os ovos, um a um, e amasse bem. Forre forminhas de empada, coloque o recheio (somente um pouco além da metade da forminha) e cubra, tomando o cuidado de apertar bem as bordas com um garfo e de fazer alguns furinhos na tampa com um palito. Coloque as forminhas numa assadeira e leve ao forno moderado preaquecido (180º) por mais ou menos 1 hora ou até que estejam douradas.

2 comentários:

  1. Como é interessante vivenciar a história também pelo paladar....mais delícias e curiosidades de nossa história e culinária, o Brasil é um celeiro de boas histórias.

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    1. Oi Marcio, tudo bem? Que bom que gostou e descobriu o espírito do Blog :D Um abração!

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